segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Primeiras considerações sobre o Natal e o Ano Novo

FALTAM POUCOS DIAS PARA O NATAL


Faltam poucos dias para o Natal, e conseqüentemente o ano novo se aproxima. Começam os preparativos para a festa de fim de ano na praia. Todo ano a família repete este rito festivo com ansiedade e emoção. Do estresse das filas de carro rumo ao litoral paulista, do trânsito caótico de quem deixou para viajar na última hora, do convívio com gente mal na fila dos bancos, dos supermercados, da padaria, e de qualquer lugar onde haja muita gente reunida. Todos instalados no apartamento apertado, ou na casa de praia com aluguel exorbitante, felizes e contentes sem um motivo aparente. E lá vamos nós para a beira da areia, com o carro cheio de machos carentes usando bermudão comprado em lojas de surf, camiseta regata e óculos escuro. O que você não tem coragem de ouvir no som do seu carro, provavelmente ouvira no último volume em dezenas de carros com os porta malas abertos, exibindo caixas de som seladas tocando os principais hits de axé, funk e pagode que encantam o verão. Aquela letrinha de música que o compositor não demorou mais do que uns dois minutos para criar, mas que já está tocando no Domingão do Faustão e no Programa do Gugu. Se um dia eu não der certo como enfermeiro, chamo alguns colegas de cabelos descoloridos e monto uma banda de pagode. Primeiro CD “Volta pra Mim”, Segundo CD “Liga pra Mim”, Terceiro CD “Não me trata Assim”. Não demoraria muito para receber o disco de platina, ter um romance com alguma popozuda que posaria para a Sexy ou Playboy, no final das contas eu teria o meu casamento exibido num programa de fofocas na Rede TV. Sou chato, crítico, quadrado, e não aceito o que dói em meus ouvidos. Para agüentar a situação passo a consumir bebida alcoólica, por mais que eu beba, nunca é o suficiente para acompanhar os que estão ao meu redor. Alguém precisa ficar sóbrio para cuidar dos outros, além do mais, psicotrópicos e bebidas alcoólicas não combinam. Passo a rir dos que estão fazendo besteira devido ao consumo exagerado de álcool. Todo ano alguém passam mal, dorme na areia da praia, fica com alguma garota que jamais chegaria perto estando sóbrio e outras coisinhas do tipo. À noite têm os fogos de artifício, os shows patrocinados pela prefeitura local para atrair turistas, garotas bonitas em roupas brancas, etc. Hoje estou com um péssimo humor, até mesmo para escrever fica difícil. Faz três anos que tenho feito a mesma promessa na noite de Reveillon sem nunca ter conseguido cumpri-la. Feita sempre na beira da praia com os pés molhados, sentado na areia e olhando para o céu estrelado. Um pouco antes, quando todos estão começando a olhar para os relógios, segurando garrafas e taças de champanhe, eu me afasto discretamente dos meus amigos e parentes, e tento ficar um pouco sozinho. Cinco ou dez minutos antes que todos se abracem e sigam os velhos rituais, antes que os fogos de artifício enfeitem o céu. Acredito que a solidão muitas vezes é a melhor companhia para conseguir a paz, meditar sobre a vida, planejar e pensar. Sonho um dia ficar completamente sozinho num reveillon qualquer. Não seria maluquice, eu meditaria muito, acenderia incensos, pensaria nos que já se foram e na gratidão de estar vivo. Quando os fogos começam a estourar e o céu fica todo iluminado, retorno à companhia dos meus pais e amigos. Abraço a todos, e desejo um feliz ano novo até mesmo para aqueles que me ferraram durante o ano inteiro, que irônico. O ser humano é assim mesmo. Temos 365 dias do ano para “fazer a diferença”, para mudar nossas vidas, e tomar um rumo que nos leve o mais próximo possível de nossos objetivos. Mas só acreditamos nesta força quando chega o final do ano. Só na véspera do primeiro dia de janeiro faz com que todos realmente percebam naquilo que deveriam acreditar durante o ano inteiro. Por que? Talvez por todos estarem repetindo o mesmo ritual nos diversos cantos da terra.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

CLARISSE por Renato Russo

Estou cansado de ser vilipendiado, incompreendido e descartado
Quem diz que me entende nunca quis saber
Aquele menino foi internado numa clínica
Dizem que por falta de atenção dos amigos, das lembranças
Dos sonhos que se configuram tristes e inertes
Como uma ampulheta imóvel, não se mexe, não se move, não trabalha.
E Clarisse está trancada no banheiro
E faz marcas no seu corpo com seu pequeno canivete
Deitada no canto, seus tornozelos sangram
E a dor é menor do que parece
Quando ela se corta ela se esquece
Que é impossível ter da vida calma e força
Viver em dor, o que ninguém entende
Tentar ser forte a todo e cada amanhecer.
Uma de suas amigas já se foi
Quando mais uma ocorrência policial
Ninguém entende, não me olhe assim
Com este semblante de bom-samaritano
Cumprindo o seu dever, como se fosse doente
Como se toda essa dor fosse diferente, ou inexistente
Nada existe pra mim, não tente
Você não sabe e não entende
E quando os antidepressivos e os calmantes não fazem mais efeito
Clarisse sabe que a loucura está presente
E sente a essência estranha do que é a morte
Mas esse vazio ela conhece muito bem
De quando em quando é um novo tratamento
Mas o mundo continua sempre o mesmo
O medo de voltar pra casa à noite
Os homens que se esfregam nojentos
No caminho de ida e volta da escola
A falta de esperança e o tormento
De saber que nada é justo e pouco é certo
E que estamos destruindo o futuro
E que a maldade anda sempre aqui por perto
A violência e a injustiça que existe
Contra todas as meninas e mulheres
Um mundo onde a verdade é o avesso
E a alegria já não tem mais endereço
Clarisse está trancada no seu quarto
Com seus discos e seus livros, seu cansaço
Eu sou um pássaro
Me trancam na gaiola
E esperam que eu cante como antes
Eu sou um pássaro
Me trancam na gaiola
Mas um dia eu consigo existir e vou voar pelo caminho mais bonito
Clarisse só tem 14 anos...