sábado, 30 de agosto de 2008

SÁBADO CINZA EM SÃO PAULO.

Que venha a chuva, os alagamentos, o transito caótico, as casas alagadas na beira dos córregos e rios. Pois é! Aquele prefeito mentiu dizendo que resolveria isso. Você vai continuar pagando imposto e ele não fará nada a respeito. Assim como todas aquelas solicitações feitas na regional com lista de assinaturas dos moradores locais afetados, repórteres, matérias para jornais sensacionalistas, etc. Alegre-se! Sorria! Estamos perto das eleições, com um terno fino de corte italiano ele visitará o seu bairro, com novas promessas acabará por convence-lo novamente. Mais uma gestão. Só mais uma... E quando a chuva levar embora a sua tv, a geladeira comprada em trinta e seis prestações nas Casas Bahia, você perceberá que ele mentiu. Nada mudou! Piada sem graça, piada verdadeira.  “Povo marcado, povo feliz!” Pronto! Fiz meu discurso social e agora posso falar de mim. Depois de um mês de ausência resolvi passar na faculdade e providenciar a papelada necessária para dar entrada no Conselho Regional de Enfermagem. Um órgão que ao contrário de outros Conselhos, não serve para absolutamente nada. Este é o discurso feito por todos os meus colegas que já possuíam registro como auxiliares ou técnicos de enfermagem. Mas sem isso não posso procurar emprego. Preciso da carteirinha verde clara com minha foto 3X4. Esperarei os cinco dias úteis. Paguei a taxa solicitada apesar de estar sem grana. A vida segue... Estando ao lado de pessoas que estão exercendo a profissão fico mais motivado. Caso não haja emprego remunerado, vou passar um tempo como estagiário em alguma instituição. Não tenho escolha. Enquanto a terra prometida não vem, vou vivendo de ilusão. Sinto falta de dar aulas, do contato com as pessoas, e do bem estar que isso causava. Vou tomando Lítio, Carbomazepina, e Ritalina. Fazendo terapia através da ajuda de uma amiga. Sim, de uma amiga. Não tenho grana para isso, e ao mesmo tempo meus pais parecem ter uma fobia monstruosa sobre a possibilidade que eu volte dar aulas. Minha mãe sempre trás editais de concursos aonde à concorrência chega a mais de 150 pessoas por vagas. Remuneração baixa, pouca expectativa por enquanto. São divagações que me deixam distantes até mesmo da enfermagem que conclui a contragosto. Procurarei alguma especialidade que me agrade. Saúde mental ou geriatria. Se tudo der errado, faço uma pós em administração e exerço como auditor, ou trabalhando diretamente no administrativo. Ficarei barrigudo, careca e com a pressão alta. Arranjarei uma mulher que eu jamais teria coragem de ficar na época que eu dava aulas, e provavelmente serei contemplado com meu primeiro infarto aos 45 anos. Beberei e comerei compulsivamente para suportar a vida que levarei. Aos cinqüenta e poucos anos, arrumando uns embrulhos velhos deixados na garagem do meu carro pago em trinta e seis vezes, encontrarei no fundo de uma caixa um velho quimono e uma faixa preta. Lembranças aflorarão, e depois de muitas meditações sobre as escolhas que fiz na vida. Acabarei tomando uma decisão muito séria. Ao retornar para casa no início da noite minha mulher encontrará o meu corpo sobre o sofá da sala com uma garrafa de vodka pela metade, e alguns frascos de medicamentos para pressão totalmente vazios. Sobre a mesinha da sala uma carta com muitos agradecimentos, e pedidos de desculpas a várias pessoas.  Para que isso não se torne realidade eu preciso fazer algo que eu goste. Algo que me faça feliz. Só assim poderei encarar aquilo que pode castigar o meu ego. Serei um ótimo enfermeiro, mas continuarei sendo no meu horário vago aquilo que eu sempre sonhei. Viva a vida!!