segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Sem despedidas

Neste mês registro quatro anos da perda um primo, que também era portador de transtorno afetivo bipolar. Num processo doloroso e cheio de erros, e enganos, por parte daqueles que deveriam protege-lo, e conduzi-lo a um tratamento efetivo. Por um fim a própria vida, foi à única forma encontrada por ele para deixar de sofrer. Nesta ida sem despedidas, permaneceu a saudade, a tristeza, a culpa gerada pela ignorância, e algumas perguntas sem respostas. No seu quarto restam os livros que inspiravam alguns de seus pensamentos e dizeres, um porta retrato guardando uma foto com seu sorriso, e a lembrança de sua imagem, num dos locais em que ele permaneceu por mais tempo nos últimos dias. Que seu ato de desespero não seja julgado por aqueles que nunca enfrentaram tal dor. Que esteja finalmente em paz, onde quer que sua alma descanse.

Sorri quando a dor te torturar
E a saudade atormentar
Os teus dias tristonhos vazios

Sorri quando tudo terminar
Quando nada mais restar
Do teu sonho encantador

Sorri quando o sol perder a luz
E sentires uma cruz
Nos teus ombros cansados doridos

Sorri vai mentindo a sua dor
E ao notar que tu sorris
Todo mundo irá supor
Que és feliz


Charles Chaplin


Suicídio (do latim sui caedere), termo criado por Desfontaines, matar-se, é um ato que consiste em pôr fim intencionalmente à própria vida. No Brasil, 4,9 pessoas a cada 100 mil morrem por suicídio. Os maiores índices são do Rio Grande do Sul (11 para cada 100 mil), sendo Porto Alegre a capital com maior taxa de suicídios (11,9 para cada 100 mil).  Fonte estatística: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/suicidio/suicidio.php





sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Morre lentamente

Sigo batalhando em busca dos meus objetivos. A passos largos, indecisos, ou mesmo vacilantes. A vida não espera por ninguém, ela simplesmente segue o seu curso. Penso no mundo ao meu redor, nos erros do passado, nos acontecimentos do presente. Preocupo-me demasiadamente. Se ao menos estas meditações me levassem as soluções que tanto preciso. Mas não levam... Poucas coisas me tiram deste estado de vigília. Isso me faz sofrer, me culpar, buscar evidencias das minhas falhas. Mas nem sempre foi assim, houve um tempo em que eu não castigava tanto o meu ego. Um tempo em que eu dava aulas em academias, saia com meus colegas, bebia, ouvia problemas dos outros. Tinha uma vida social mais diversificada e isso me ajudava a quebrar este ciclo. Mas com o passar do tempo, num processo que envolveu a perda do meu emprego, distorções criadas pelas minhas instabilidades de humor, e o envolvimento com pessoas que não desejavam estar ao meu lado nos maus momentos, fui aos poucos me isolando. Deixando de acreditar no ser humano. E como diz um poeta...

“Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajetos, quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o negro sobre o branco e os pontos sobre os “is” em detrimento de um redemoinho de emoções, justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, quem não se permite pelo menos uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos...”

Pablo Neruda


Sou responsável pela minha vida, minha felicidade, pelo mundo que crio ao meu redor, e pelas pessoas que permito se aproximarem de mim. Se por um lado tenho uma pedra no meu sapato com minha bipolaridade com tantos pensamentos e ciclos que me arremessam para cima e para baixo, do outro eu também tenho a terapia, medicamentos, e a família pacientemente ao meu lado. Não vou esperar que alguém me faça feliz apenas por eu desejar isso. O ser humano é falho e nada mudará esta realidade. Preciso pensar assim, quebrar este ciclo. Usar as técnicas que aprendi na terapia, minha própria experiência de vida, minha fé. Preciso emergir, voltar a superfície e continuar lutando...

sábado, 21 de novembro de 2009

Rotina



Sem novidades, sigo brigando com o meu sono, meu desanimo e minha falta de energia. Por alguns dias sinto dificuldades para dormir, em outros tenho vontade de ficar o tempo todo na cama. Falta energia, motivação e ânimo. Tenho a sensação de pesar uma tonelada e estar constantemente de ressaca. Tudo isso está me afetando, preciso realmente conversar com meu psiquiatra. Como falta grana, vou adiando a consulta. Enquanto tem medicamento guardado sigo esperando para vê-lo apenas quando meus estoques de medicamentos estiverem próximos de acabar. Não é o correto a fazer, mas somando as consultas terapêuticas, as psiquiátricas, e os medicamento a conta fica alta no final do mês. Confesso que eu poderia ser atendido pelo convênio, como fiz algumas vezes. No entanto, procuro evitar tais circunstâncias. Quando recorri a tal solução, eu me senti como se fosse um espécime portador de algum vírus maligno, ou como se estivesse com alguma prostituta tentando me satisfazer o mais rápida possível para se livrar logo de mim. Não tenho culpa que o meu convênio paga pouco pelas consultas. Do meu ponto de vista quero o tempo necessário para ser ouvido, resolver o meu problema, e ter a certeza de seguir pelo melhor caminho. Consultas de cinco minutos são uma ofensa para quem realmente precisa. Também não posso condenar toda a classe médica por causa de alguns maus elementos, mas deixo meu protesto registrado. Por algum tempo eu recorri ao psiquiatra do sistema único de saúde. Psiquiatra e remédio de graça, deveriam ser uma combinação perfeita. Deveria, pois as consultas tinham grandes intervalos entre elas, da última vez, fiquei quatro meses sem ver a cara do médico aguardando o retorno. No meio deste período acabei passando por uma crise depressiva, o que me levou a questionar junto ao médico a eficácia do tratamento. Em meias palavras ele tentou empurrar mais uma vez o mesmo medicamento, um estabilizante de humor que eu já fazia uso muito antes de ser o seu paciente. O problema de trocar constantemente de psiquiatra é este. Ele não acompanha toda a sua história, a evolução do transtorno, e suas lutas pessoais. Do meu ponto de vista isso pode ser muito complicado. Infelizmente a minha queixa não foi bem recebida. Talvez para ele aquele medicamento fosse o mais indicado para um transtorno bipolar de humor, mas não era para o meu caso. Ficamos neste impasse, e sendo assim, acabamos por não chegar num acordo. Preferi deixar marcado uma consulta de retorno, na esperança de convence-lo sobre uma possível mudança na próxima vez. Nesta última crise em questão, eu fui atendido por um médico particular, o mesmo que é responsável atualmente pelas minhas consultas. Não tenho queixas quanto a este, na verdade até me surpreendeu muito. Se eu pudesse permaneceria com ele sem problema algum. Vamos ver o que acontece. Atualmente estou sem trabalho, e tenho outras prioridades além do meu tratamento. Apenas 13% dos brasileiros fazem faculdade, numa porcentagem ainda menor estão aqueles que possuem pós-graduação. Brevemente farei parte deste time, e isso deveria ser uma ferramenta para agilizar a minha procura por emprego. Uma pós turbinando meu currículo. Infelizmente não é isso o que acontece, e já ouvi umas duas ou três professoras dizendo que o nosso curso não é valorizado no mercado. Pós-graduação em saúde mental e psiquiatria, para alunos formados em enfermagem. Racionalmente falando é uma profissão um tanto difícil e complexa. Cuidar de uma classe de pacientes que vão desde deficientes cognitivos, passando por portadores de diversos transtornos como esquizofrenia, anti-social, boderlaine, bipolares, Mal de Parkson (entre tantos outros) e terminando na crescente população de dependentes químicos dos centros urbanos. Ironicamente não faltam pacientes. O que falta são centros de tratamento e recursos para tal área. O estado não cumpre o seu papel em dar ao cidadão o que é constituído por lei. E no caso dos hospitais privados, são as cirurgias, exames complexos, centros coronarianos entre outras especialidades que realmente rendem lucro. A enfermagem psiquiátrica é uma profissão para o futuro. Alguém poderia perguntar qual foi o motivo de ter sido esta a minha escolha? Psiquiatria é algo totalmente diferenciado das outras especialidades. È necessário conhecer o ser humano a fundo, a sua história, e não apenas o da doença. Não existem três pacientes com o mesmo transtorno e que hajam de mesma forma. Tudo pode evoluir de uma forma inesperada mesmo seguindo o tratamento padrão. Não existem exames que identifiquem as patologias. Além de tudo isso, eu sou um portador de transtorno psiquiátrico. É algo que ajuda o meu autoconhecimento, no diferenciamento da forma como eu trato meus pacientes. Sei o que é dor psíquica, depressão, efeito colateral de medicamentos, mania, euforia, hipomania, preconceito, etc. Na verdade existem muitos profissionais da área da saúde que são portadores, mas escondem, devido ao preconceito. Isso também é um tema bem tortuoso. Mas voltando a temática da falta de estrutura. Haverá um momento em que o estado não poderá mais ignorar a crescente multidão de pessoas acometidas pelas mais diversas patologias psiquiátricas, e muito menos fingir não enxergar o batalhão de dependentes químicos expostos pelas câmeras da TV e apontados pela própria sociedade. Só espero que isso não demore muito, e que algo não seja feito apenas pensando nos prejuízos que tais cidadãos trazem para os cofres do país. 

Para saber um pouco mais sobre a questão, procure por “CAPS” e “Reforma Psiquiátrica”.


sexta-feira, 20 de novembro de 2009

A Mentira ( FRIEDRICH NIETZSCHE )

"Porque é que, na maior parte das vezes, os homens na vida quotidiana dizem a verdade? Certamente, não porque um deus proibiu mentir. Mas sim, em primeiro lugar, porque é mais cómodo, pois a mentira exige invenção, dissimulação e memória. Por isso Swift diz: «Quem conta uma mentira raramente se apercebe do pesado fardo que toma sobre si; é que, para manter uma mentira, tem de inventar outras vinte». Em seguida, porque, em circunstâncias simples, é vantajoso dizer directamente: quero isto, fiz aquilo, e outras coisas parecidas; portanto, porque a via da obrigação e da autoridade é mais segura que a do ardil. Se uma criança, porém, tiver sido educada em circunstâncias domésticas complicadas, então maneja a mentira com a mesma naturalidade e diz, involuntariamente, sempre aquilo que corresponde ao seu interesse; um sentido da verdade, uma repugnância ante a mentira em si, são-lhe completamente estranhos e inacessíveis, e, portanto, ela mente com toda a inocência."




segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Diferente...

Qualquer um que for nomeado “meu amigo”, provavelmente merecerá uma estátua de bronze na praça principal. O sujeito terá que suportar ao seu lado alguém temperamental, excêntrico, irritadiço, irônico, sarcástico, e com algumas restrições de conduta. Das “qualidades” que citei, são na maioria atribuídas pela soma da minha própria personalidade com a bipolaridade. Como eu poderia ter certeza de onde acaba uma coisa, e começa outra? Não consigo fazer esta separação, não me lembro mais como eu era antes de ser diagnosticado com transtorno de humor. Talvez eu fosse mais calmo, mais tranqüilo e menos depressivo. Não tenho certeza, mas eu não era assim. Das restrições que evidenciei, faz parte da lista a impossibilidade de beber livremente, dormir no horário que desejar e exagerar na comida. Todas elas devido aos medicamentos que faço uso, e a rotina que procuro seguir para atenuar a possibilidade do surgimento de um quadro de mania. Pelos “detalhes” citados, eu já perderia uma legião de colegas e amigos de balada. Quem permaneceria ao lado de alguém assim? Sigo minhas observações, com a lista de preferências pessoais, rotinas, gostos musicais, etc. Nasci no país do futebol, mas não sofro na frente da TV pelo time do coração, ou pela seleção brasileira. A não ser que seja numa final de copa do mundo, neste caso eu me submeto a euforia geral. Sinceramente desconfio que não exista “vida inteligente” regendo todos aqueles programas de “mesa redonda” que preenchem a programação televisiva em certos horários. Outro detalhe, qual seria o motivo de chamar um programa de “Esporte Total”, se noventa porcento de sua programação é dedicada ao futebol? Não se fala de boxe, taekwondo, handebol, tênis de mesa, judô, esporte radicais, etc. Não seria melhor nomeá-lo de “Futebol Total?” Não dá, prefiro assistir documentários, noticiários, ou até programas de culinária. Brinco com alguns colegas dizendo que o único time que vale a pena assistir durante horas, são as meninas do vôlei. Carismáticas, bonitas e muito “saudáveis”.  Devo ser realmente um cara muito chato, por não gostar do esporte nacional e que muitas vezes acende acaloradas discussões em rodas de “machos”. Se futebol lembra comemoração, também lembra bebida, que por sua vez lembra cerveja. Prefiro vinho, licores, bebidas que não sejam tão pesadas. Não gosto de axé, pagode ou funk. E com este tipo de escolha, deixo de lado oitenta porcento dos bares e danceterias da região onde moro. Também não sigo o estilo de colocar um chapéu de cowboy, colar um adesivo de alguma comitiva na traseira do carro, e seguir para algum rodeio ver peões toscos vestidos ao estilo Marlboro torturando animais. Gosto de praias, viagens, e longos passeios, mas prefiro faze-los fora da alta temporada. De comer na companhia de amigos, de receber telefonemas ou mensagens. Aprecio uma boa conversa com pessoas engraçadas, ou inteligentes e que possam me ensinar algo. No final das contas não sou um alienígena, não sou tão difícil de agradar. Um pouco diferente talvez. No entanto, parece que as pessoas estão cada vez mais iguais entre si. Poucas tentam ser autenticas. Há muitas pessoas fazendo sempre as mesmas coisas, pensando da mesma forma, ou vivendo do mesmo jeito. Não sei se é culpa da novela das oito, do Jornal Nacional, ou de alguma conspiração secreta (risos). Vejo isso entre meus colegas de convívio, na faculdade, no metro, no ônibus, na minha família. Não entrarei numa discussão sociológica ou antropológica sobre isso, não desejo seguir por esta linha. Diante disto os “originais” acabam sendo rotulados como chatos, excêntricos, politizados, demagogos, arrogantes. Conseqüentemente afastando algumas pessoas ao seu redor. Talvez faça parte do processo de tentar viver a vida de uma forma diferente. Não de forma assustadoramente diferente, mas nas pequenas e sensíveis coisas. Não tenho certeza se as minhas palavras foram compreendidas, se consegui dar o meu recado. Quem sabe? Quando não vale a pena lutar por aquilo que acreditamos? Quem quer ser o meu amigo?

“Outrora, os melhores pensavam pelos idiotas; hoje, os idiotas pensam pelos melhores. Criou-se uma situação realmente trágica: — ou o sujeito se submete ao idiota ou o idiota o extermina”.


Nelson Rodrigues

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Como ser um torto citando poetas, letrados, dramaturgos, filósofos, etc..


Nem todas mulheres gostam de apanhar, só as normais.
Nelson Rodrigues

Deus me defende dos amigos, que dos inimigos me defendo eu.
Voltaire

Eu bebo para fazer as outras pessoas interessantes.
Groucho Marx

As mulheres podem tornar-se facilmente amigas de um homem; mas, para manter essa amizade, torna-se indispensável o concurso de uma pequena antipatia física.
Friedrich Nietzsche

O que mexe com a libido das mulheres não é a beleza física é a inteligência. Tanto que revista de homem nu só vende para gays.
Pedro Bial

Amo as mulheres, mas não as admiro...
Charles Chaplin

Os homens não sabem dar valor às suas próprias mulheres. Isso deixam para outros.
Oscar Wilde

Muitas mulheres consideram os homens perfeitamente dispensáveis no mundo, a não ser naquelas profissões reconhecidamente masculinas, como as de costureiro, cozinheiro, cabeleireiro, decorador de interiores e estivador.
Luís Fernando Veríssimo

[Sobre o sucesso que faz com as mulheres]
Você já viu mulher gostar de alguma coisa que presta?
Leonardo Pareja

"Homens são bons amantes. Principalmente quando estão traindo suas esposas."
Marylin monroe

O ideal no casamento é que a mulher seja cega e o homem surdo.
Sócrates

A história da mulher é a história da pior tirania que o mundo conheceu: a tirania do mais fraco sobre o mais forte.
Oscar Wilde

"O que obviamente não presta sempre me interessou muito."
Clarisse Lispector

"Não sei quanto às outras pessoas, mas quando me abaixo para colocar os sapatos de manhã, penso, Deus Todo-Poderoso, o que mais agora?"
Charles Bukowski

A bigamia consiste em ter uma mulher a mais. A monogamia é a mesma coisa.
Oscar Wilde

Bagaceira e bunda, so presta grande.
Branchu

Comecei uma dieta, cortei a bebida e comidas pesadas e, em catorze dias, perdi duas semanas.
Joe E. Lewis

Minha mulher fugiu com meu melhor amigo. Sinto falta dele.
Henry Yougman

Casamento. Uma comunidade que consiste de um homem, uma mulher e uma amante, num total de duas pessoas.
Ambrose Bierce

É pela ironia que começa a liberdade.
Victor Hugo


sábado, 7 de novembro de 2009

Amigos

Contrariando a muitos, vou dizer que a felicidade mora numa garrafa de bebida, num disco velho de rock, e na conversa com um amigo que lhe faz companhia quando você tanto precisa. Coisas simples, e que deveriam ser acessíveis sempre, mas que infelizmente estão se tornando raras em minha vida. Não peço que o diabo me leve ao teto de um templo e me prometa o mundo. Não preciso do carro do ano, de muito dinheiro no bolso, ou comer a garota mais bonita que aparecer na minha frente. Preciso apenas de alguns momentos que justifiquem a minha existência, que façam a vida valer a pena, sorrir mais do que chorar, sentir-se realizado com o que faz. Mas o que devo fazer quando isso não acontece? Hoje tive que mover montanhas para sair de casa e encontrar um amigo do qual eu havia prometido encontrar para treinar. Corpo cansado, sonolência, mais uma vez aquela vontade de permanecer deitado em algum canto esperando o tempo passar. Nestes momentos todos os argumentos parecem lutar inutilmente contra o corpo. Mais um dia torcendo para que algo aconteça e mude tudo. Mas eu não posso permanecer assim, sei que preciso lutar de alguma forma. Respirei fundo e lembrei que eu não decepcionaria apenas meu amigo, mas também o cara que estava me ensinando tanta coisa em troca apenas do meu respeito, da minha gratidão e fidelidade. Poucas pessoas compreendem esta relação. Joguei meu kimono dentro da mochila e segui a pé até a estação de trem. Passos lentos, sol quente, a mesma paisagem desde a minha infância. Nada parecia mudar de verdade, exceto pelas novas pichações nos muros, e as praças cada vez mais sujas e abandonadas, a decadência trazida pela falta de educação e cidadania de algumas pessoas. Após percorrer duas estações de trem, e quinze minutos de caminhada, eu chegava finalmente ao meu destino. Toquei a campainha e fui atendido pelo mestre, tentei disfarçar inutilmente a minha fisionomia de poucos amigos, conversamos brevemente e segui até o salão de sua casa, para varrer o chão e arrumar os tatames.  Meu amigo chegou logo depois, e nós três finalmente nos reunimos para treinar. Foram mais de duas horas de chutes, quedas, torções e imobilizações. No final de tudo, eu havia ganhado duas escoriações acima do ombro e um hematoma na canela. Mas apesar de tudo eu não estava mais triste. De alguma forma meu anjo da guarda havia feito sua lição de casa. Eu não gozava de plena felicidade, mas de alguma forma eu sentia um alivio em minha alma. Alguns demônios haviam ido embora dos meus pensamentos. Como eu poderia dar atenção a eles nas horas que permaneci no tatame?  A preocupação em aprender era bem maior, não havia espaço para mais nada. Acabado o treino, troquei o velho kimono suado pela roupa que estava toda amarrotada no fundo da mochila, e rumei na companhia de meu amigo até a estação de trem. Paramos no caminho para beber algo, éramos dedicados, mas de forma alguma éramos santos. Não desejávamos nos embebedar, mas apenas conversarmos como dois velhos conhecidos. Desta vez foi o momento da bebida, do rock antigo no rádio do bar, de ouvir, e ser ouvido. Senti-me vivo em perceber o quanto ele confiava em mim comentando sobre seus problemas pessoais. Das brigas com alguns familiares, da falta de grana, do trabalho que tomava a maior parte do seu tempo, etc. Os velhos problemas de sempre. Após ouvi-lo, falei dos meus medos. Da crise depressiva que sempre ronda ao meu redor, da dificuldade em se adaptar com alguns medicamentos, da falta de grana, de trabalho, etc. As velhas batalhas e os velhos rumos. A tarde acabou bem. Agradeço a Deus por estar renovado, pelo anjo torto que me segue. Com certeza eu não me daria bem com um que fosse perfeito.

O amigo é a resposta aos teus desejos. Mas não o procures para matar o tempo! Procura-o sempre para as horas vivas. Porque ele deve preencher a tua necessidade, mas não o teu vazio.
Khalil Gibran
 
Não é amigo aquele que alardeia a amizade: é traficante; a amizade sente-se, não se diz.
Machado de Assis

O uísque é o melhor amigo do homem. É o cachorro engarrafado.
Vinícius de Moraes





Sobre o Transtorno Obsessivo Compulsivo

Nos textos "Misticismo" e "Idade das Trevas", eu relatei um caso familiar de TOC - Transtorno Obsessivo Compulsivo, sem dar maiores explicações sobre o tema. Da mesma forma que existem pessoas que necessitam conhecer um pouco mais sobre o Transtorno Afetivo Bipolar, o mesmo aconteceria com o TOC. Vou deixar um texto sobre o tema para que diminuam as dúvidas. Pesquisei num site popular onde a linguagem parece acessível a todos.

O chamado Transtorno Obsessivo-Compulsivo ("TOC") (na literatura em inglês Obsessive-Compulsive Disorder – "OCD") é uma doença em que o indivíduo apresenta obsessões e compulsões, ou seja, sofre de idéias e/ou comportamentos que podem parecer absurdas ou ridículas para a própria pessoa e para os outros e mesmo assim são incontroláveis, repetitivas e persistentes. A pessoa é dominada por pensamentos desagradáveis que podem possuir conteúdo sexual, trágico, entre outros que são difíceis de afastar de sua mente, parecem sem sentido e são aliviados temporariamente por determinados comportamentos. O Transtorno Obsessivo-Compulsivo é considerado o quarto diagnóstico psiquiátrico mais freqüente na população. De acordo com os dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), até o ano 2020 o Transtorno Obsessivo-Compulsivo estará entre as dez causas mais importantes de comprometimento por doença.  Além da interferência nas atividades, os Sintomas Obsessivo- Compulsivos (SOC) causam incômodo e angústia aos pacientes e seus familiares. Apesar de ter sido descrito há mais de um século, e dos vários estudos publicados até o momento, o Transtorno Obsessivo-Compulsivo ainda é considerado um "enigma". Questões como a descoberta de possíveis fatores etiológicos, diversidade de sintomas e como respondem aos tratamentos continuam sendo um desafio para os pesquisadores. Estudos indicam que uma das dificuldades para encontrar essas respostas deve-se ao caráter heterogêneo do transtorno. Vários estudos têm apontado para a importância da identificação de subgrupos mais homogêneos de pacientes com Transtorno Obsessivo-Compulsivo. Esta abordagem visa buscar fenótipos mais específicos que possam dar pistas para a identificação dos mecanismos etiológicos da doença, incluindo genes de vulnerabilidade e, por fim, o estabelecimento de abordagens terapêuticas mais eficazes. Alguns subtipos de Transtorno Obsessivo-Compulsivo têm sido propostos. Dentre eles, dois subtipos bastante estudados correspondem aos pacientes com início precoce dos Sintomas Obsessivo- Compulsivos. e o subtipo de Transtorno Obsessivo-Compulsivo associado à presença de tiques e/ou síndrome de Tourette.  Esses dois subgrupos de pacientes apresentam características clínicas, neurobiológicas, de neuroimagem, genéticas e de resposta aos tratamentos distintos e que os diferenciam de outros pacientes. É importante ressaltar também que esses dois subtipos apresentam características semelhantes, o que dificulta a interpretação de sua natureza, ou seja, torna-se difícil diferenciar se as características encontradas são devido ao início precoce dos Sintomas Obsessivo- Compulsivos ou à presença de tiques. Compulsão é um comportamento consciente e repetitivo, como contar, verificar ou evitar um pensamento que serve para anular uma obsessão. Outros exemplos de compulsão são o ato de lavar as mãos ou tomar banho repetidamente, conferir reiteradamente se esqueceu algo como uma torneira aberta ou a porta de casa sem trancar. Deve-se deixar claro porém que para que esses comportamentos sejam considerados compulsivos, devem ocorrer em uma frequencia bem acima do necessário diante de qualquer padrão de avaliação. Acomete 2 a 3% da população geral. A idade média de início costuma ser por volta dos 20 anos e acomete tanto homens como mulheres. Depressão Maior e Fobia Social podem acometer os pacientes com Transtorno Obsessivo-Compulsivo ao longo da vida.

origem: Wikipédia, a enciclopédia livre - http://pt.wikipedia.org/wiki/Transtorno_obsessivo-compulsivo




sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Comprimido para Dormir

SP 23:05 – Completo quatro noites de sono intercalado. São poucas horas de sono interrompidas por longos períodos de “meditação”. Não encontro algo que me faça relaxar, o calor gruda no meu corpo dolorido, os pensamentos pairam entre preocupações e pendências. Definitivamente não consigo ter uma noite de sono completa. Olho para o visor do relógio ansioso pela chegada da manhã. E mesmo que chegasse, o que eu faria? Provavelmente o que tenho feito durante toda a semana. Passaria o dia com uma sensação de ressaca, o corpo pesado, lutando para fazer todas as minhas tarefas. Na última noite resolvi tomar algo que me fizesse dormir. Recorri a caixa de medicamentos onde guardo alguns psicotrópicos que já fizeram parte de outros tratamentos, mas que perderam sua importância e foram substituídos com o passar do tempo. Retiro da caixa um comprimido grande e branco e coloco-o na garganta adentro. Deito cedo, são apenas 22 horas no relógio e espero para ver o que acontece. Tenho uma noite de sono pesada, algo que me arrebatou para um mundo profundo e cheio de sonhos. Mas não consigo acordar no horário que eu deveria. Perco a consulta com minha terapeuta por ter dormido até às 15 horas. Acordo com um gosto amargo na boca, cabeça pesada, e a sensação de estar de ressaca. Minha camiseta colada ao corpo toda transpirada. Lá fora um sol quente de verão. Meu “lado moral” começa a me condenar. Por ter ingerido um medicamento que não fazia mais parte do meu tratamento, por ter perdido uma consulta que julgava tão necessária, por piorar as coisas... O dia segue calmo. Sem trabalho, faculdade, ou algumas de minhas saídas para entregar currículo, acabo com à tarde sem ter feito nada de útil. Agradeço a Deus por estar sozinho em casa. Eu não gostaria de encarar alguém nas condições que fiquei. Tive uma noite de sono, finalmente consegui dormir. Mas joguei fora metade do dia, perdi uma consulta, dormi como se não precisasse estudar, como se já estivesse com a vida que sempre pedi a Deus. Corroa-me a crise de moralismo. Preciso voltar ao meu atual psiquiatra, talvez eu tenha que acrescentar mais um comprimido. Desta vez para conseguir dormir. Um que seja do tamanho da minha insônia, e não maior do que ela. Sei que não será a primeira vez que isso acontece, mas fico com a sensação de derrota. Comprimidos para dormir, comprimidos para não ficar depressivo, comprimidos para ficar estável, comprimidos para não ter a sensação de precisar de tantos comprimidos. Passam alguns anos e aí entram outros comprimidos..rs Para o coração, o colesterol, o diabete, etc, etc. Viva a vida! Tenho que faze-la valer a pena, do jeito que está, não dá.

Aprendemos a morrer quando o dormir é profundo
e não há sonhos lembrados.
Na insônia,
a vida resiste.
Valter da Rosa Borges

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Idade das Trevas

Num outro texto chamado “Misticismo”, eu havia relatado sobre o caso de um primo que havia desenvolvido um transtorno obsessivo compulsivo. Pois é, somos uma família bem comprometida psiquicamente. Temos esquizofrênicos, bipolares, depressivos, e agora um caso de TOC. Não tenho os números exatos, mas até onde eu tenho registros, são mais ou menos seis ou sete pessoas diagnosticadas. A família é bem numerosa tanto do lado materno, quanto paterno. São mais de vinte e quatro tios e tias, somando os irmãos de meu pai, e as irmãs de minha mãe. Não contabilizei seus respectivos maridos e esposas, e nem ao menos meus primos e primas. Caso isso fosse feito, ultrapassaríamos tranqüilamente mais de cem pessoas. Imagina-los todos juntos num mesmo local seria a visão do inferno (risos). Mas nem todos têm uma visão tão negativa de seus parentes. Vou guardar este comentário para mim. A questão é que este primo esta passando pelo mesmo processo que originou o suicídio de um outro membro da família. Alguém que era portador de transtorno bipolar, que inicialmente recebeu cuidado médico, mas que por falta de informações e atenção da família, acabou morrendo por overdose de psicotrópicos. Considero que apesar de todos os conhecimentos que foram conquistados através de séculos e séculos de pesquisa e desenvolvimento humano, através da ciência, da filosofia, da matemática, etc. Ainda vivemos a “Idade das Trevas”. Cito esta parte da história da humanidade, como ironia ao que está acontecendo em minha família. Com esta pessoa que sofre de transtorno obsessivo compulsivo, mas que infelizmente está submetido à ignorância dos que deveriam socorre-lo. Ele foi levado pela mãe a um psiquiatra. Onde recebeu o diagnostico, as recomendações sobre o transtorno, e os medicamentos que deveriam ser administrados para a melhora do quadro. Poucos dias após o inicio do tratamento, alguns sintomas persistiam, desta forma ouvindo as recomendações de comadres e compadres, a mãe resolveu interromper o tratamento e levar o rapaz até uma igreja evangélica. O veredicto dado pelo pastor foi que o rapaz era vitima de maldição maligna, mesmo com todos os gritos e orações, os sintomas persistiam durante a semana. O medicamento já não estava mais sendo administrado, as recomendações dadas pelo médico foram esquecidas. A namorada do rapaz sugeriu que ele voltasse a ingerir bebidas alcoólicas para cortar os medicamentos, que provavelmente eram parte da causa do seu sofrimento. Há uma cultura de que remédio psiquiátrico serve apenas para dopar paciente. Nenhuma melhora ocorrida, optaram por consultar um centro espírita. Segundo os médiuns, ele deveria passar a freqüentar a entidade e desenvolver seu dom mediúnico. Para que a coisa não se torne monótona vou resumir a história. Meu primo está demonstrando sintomas psicóticos. Ouvindo vozes, tentando manter-se isolado em seu quarto, chegou a dizer que não deseja mais viver. Eu telefonei para a casa dele e conversei com minha prima - mãe dele. Afirmei que ele deveria voltar a fazer uso dos medicamentos, que este era o caminho da recuperação. Que uma nova avaliação deveria ser feita, e que bebidas alcoólicas estavam fora de questão. Pedi para que ela tentasse faze-lo seguir com sua rotina o mais próximo possível da normalidade. Alimentando-se corretamente, tomando banho, e realizando todas as atividades diárias. Que a fé em Deus deveria ser sempre exercitada e mantida, mas que a ignorância fosse evitada a todo custo. Ela prometeu que o levaria nesta próxima quarta-feira ao médico. Vamos ver o que acontece.

Idade Média: Idade das Trevas?

O conceito de Idade Média foi "cunhado" por ocasião do período compreendido como Renascimento. A razão desse conceito se dá pelo fato de que muitos historiadores fizeram um certo juízo de valor dessa época como tendo sido um período "negro" da história da humanidade.  Assim, chegaram a conclusão de que o mundo foi marcado por três grandes épocas, das quais, apenas duas épocas presenciou-se acontecimentos de progresso e evolução da raça humana no plano intelectual e cultural: a época dos gregos e a das invenções modernas. Dessa  forma, a idade Média foi compreendida como uma época de retrocesso do pensamento, de atraso intelectual, científico e cultural. Uma época em que o domínio da  fé obscureceu as "luzes" da razão e emperrou o progresso.  Ao longo de vários séculos após o término da Idade Média, o termo foi cada vez mais visto de forma "pejorativo",

fonte: http://pt.shvoong.com/humanities/1659593-idade-m%C3%A9dia-idade-das-trevas/

"Conhecereis a verdade e a Verdade vos libertará." João 8:32