segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Tempo Perdido...

TEMPO PERDIDO...


 Faz algum tempo que não registro nada neste site. Os motivos foram os mais variados, mas posso citar como principais as duas avaliações que participei no final de dezembro e no início deste ano para uma vaga de pós-graduação dentro do instituto de psiquiatria do qual trabalho como enfermeiro voluntário.  Ainda não sei a resposta da segunda fase e sinceramente aguardo com muita ansiedade. Se der tudo certo farei a pós gratuitamente e com uma bolsa de estudo para as despesas. Pelo menos um vale coxinha.

A vida passa rápida e todos os dias aparecem novos eventos que testam a minha capacidade como profissional, de ser humano e principalmente de portador de transtorno afetivo em busca de paz e equilíbrio. Demorei muito para descobrir que havia algo errado comigo. Intimamente eu sabia, mas a falta de informações e apoio familiar fez com que eu aceitasse qualquer explicação ou rótulo. Preguiçoso, burro, vagabundo, ignorante, sem destino, alienado, fútil, etc, etc. Depois de um longo processo doloroso e complicado eu consegui chegar a uma resposta para as minhas perguntas. Apesar desta vitória percebo que a vida não esperou por mim. O meu mundo foi passando por transformações e hoje eu olho ao meu redor e não sei mais onde estou. Há uma praça em frente a minha casa que costumava servir de ponto de encontro entre eu e meus amigos. Éramos uns seis adolescentes que sempre estavam envolvidos nas mesmas coisas. As mesmas baladas, as mesmas festas, encrencas, desejos e até o jeito de nos vestirmos identificava quem nós éramos. Desde de cedo nós trabalhávamos, não havia outra forma de sustentarmos nosso consumismo e nossas diversões. Alguns ainda ajudavam em casa e quando era necessário fazíamos uma um “rateio” na porta de alguma danceteria, para ajudar um colega desprevenido. A vida parecia mais fácil e completa naquela época. Não tínhamos grana o tempo todo, carros, casa na praia, papai bancando tudo, mas éramos felizes e parecia que tudo duraria para sempre. Assim seguíamos algumas vezes vencendo e outras perdendo. Trabalhando, batalhando e estudando. Aos poucos o que era impossível já estava acontecendo. Estávamos deixando a matilha e seguindo nossos próprios rumos. Eu me tornei com 24 anos, alguns foram com a família para outras cidades e ainda houve aqueles que deixaram com que a “maldição” dos problemas diários, das contas a pagar e da rotina carregada de fumaça roubasse todo o entusiasmo daqueles dias. Passados dois anos eu me separei da mãe da minha filha. Ironicamente ela foi uma das melhores amigas que eu tive na adolescência. Acho que eu quis encontrar a namorada perfeita ficando com ela. Foi daí em diante que entrei numa montanha russa que não poderia ser normal. O que eu parecia carregar desde a infância explodiu dentro de mim. Nada mais me sustentava após os últimos acontecimentos. Dias trancado no quarto, dias indiferente ao mundo e a vida. Esta não seria a última vez e também não foi a pior de todas. O pior viria anos depois. Por ironia a minha ex-mulher foi a primeira pessoa a me levar até um psiquiatra. Nós já não estávamos mais juntos e isso foi visto por mim como uma tentativa de reconciliação. Passei por quatro psiquiatras até chegarem ao meu diagnóstico atual. Isso não foi algo feito em uma ou duas semanas. Ao lado dela eu estive uma única vez dentro de um consultório. Anos se passaram e eu fiquei. Parecia que eu havia ficado numa plataforma, acenando para um trem que carregava consigo todos os meus amigos e o meu relacionamento. Não sei como explicar isso. Eu continuava a trabalhar e a batalhar. Só não dava conta do que eu havia perdido e por onde estive. De quanto tempo foi este vácuo? Quatro ou cinco anos? No entanto, sentado na praça em frente a minha casa e no mesmo banco onde eu beijava minha ex-mulher ou me reunia com os meus amigos antes de nossas “investidas”, não pude deixar de me sentir sozinho e um pouco triste. Telefonei para a minha filha sugerindo que nos encontrássemos. Ela pediu um tempo e foi conversar com a mãe. Não pude deixar de ouvir ao fundo as orientações para que nosso encontro fosse deixado para outro dia. Compromissos, igreja, etc. As coisas ficaram como estavam. Amanhã é segunda-feira. Começa outro dia.

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      Tempo Perdido
      Legião Urbana
      Composição: Renato Russo

      Todos os dias quando acordo
      Não tenho mais
      O tempo que passou
      Mas tenho muito tempo
      Temos todo o tempo do mundo...

      Todos os dias
      Antes de dormir
      Lembro e esqueço
      Como foi o dia
      Sempre em frente
      Não temos tempo a perder...

      Nosso suor sagrado
      É bem mais belo
      Que esse sangue amargo
      E tão sério
      E Selvagem! Selvagem!
      Selvagem!...

      Veja o sol
      Dessa manhã tão cinza
      A tempestade que chega
      É da cor dos teus olhos
      Castanhos...

      Então me abraça forte
      E diz mais uma vez
      Que já estamos
      Distantes de tudo
      Temos nosso próprio tempo
      Temos nosso próprio tempo
      Temos nosso próprio tempo...

      Não tenho medo do escuro
      Mas deixe as luzes
      Acesas agora
      O que foi escondido
      É o que se escondeu
      E o que foi prometido
      Ninguém prometeu
      Nem foi tempo perdido
      Somos tão jovens...

      Tão Jovens! Tão Jovens!...