sexta-feira, 3 de julho de 2009

FINALMENTE A DEPRESSÃO...



Sinto a depressão como uma doença solitária, que não deixa marcas na pele, e talvez por isso nem sempre é compreendida por aqueles que nos cercam. No meu caso, eu não posso aceitar que ela tenha se instalado de uma hora para outra, mas evoluído lentamente devido a todos os acontecimentos que narrei anteriormente. A literatura a descreve em três fases divididas em leve, moderada e grave. A última incapacita o ser humano e leva-o a ideações suicidas que podem, ou não, tornar-se realidade.
Após três longos dias deitados na cama com as mesmas roupas, sem comer direito ou tomar banho, resolvi procurar ajuda. Não havia mais lágrimas que pudessem molhar o meu travesseiro e se não fosse desta forma, eu teria que aceitar a proposta de ficar internado alguns dias numa clinica psiquiátrica. Quando se vai para este tipo de lugar, as promessas de uma breve estadia são substituídas rapidamente por longos dias, que se multiplicam rapidamente. Todos sabem o que é melhor para você e sua autonomia e privacidade tornam-se completamente nulas. Quais eram as minhas opções? O que mais poderia ser? A idéia de suicídio era diária e cada vez mais concreta. Mas eu não me arriscaria com overdose de medicamentos ou algo que pudesse falhar. Eu desejava uma arma de fogo carregada ao meu alcance. Algo que fosse certo e discreto, algo que não expusesse o meu corpo numa calçada pública para apreciação de todos. Além do que, na overdose de medicamentos corre-se o risco ser encontrando durante o processo, terminando num pronto socorro de forma vergonhosa. Nos casos de atropelamento, enforcamento ou queda do alto de um edifício, tudo parece muito incerto e espetaculoso. Definitivamente uma bala na cabeça poucas vezes falha e considero muito mais “digno”. Alguns militares em situações extremamente desfavoráveis recorriam a este artifício para não serem capturados e humilhados diante de seus inimigos. Ao longo da história samurais cometiam rituais suicidas, para proteger sua honra ou até mesmo em homenagem aos seus mestres, o mesmo aconteciam com diversos tipos de guerreiros. Para que eu pudesse concretizar a minha idéia, eu teria que arrancar da minha cara a expressão de choro e abatimento, viajar mais de uma hora de trem até a única favela de São Paulo onde eu tenho alguns colegas de infância, inventar uma magnífica desculpa para comprar um revolver, circular por todos estes lugares carregando dinheiro, imaginar um lugar discreto para esconder a minha “possível” arma e finalmente retornar a minha casa. No meu ritual de despedida, eu escreveria minhas últimas palavras de agradecimento e desculpas para a minha família, sem rancor ou raiva por alguém que ficasse. Para onde quer que eu fosse, para o “Vale dos Suicidas” descrito pelos espiritualistas, o “Purgatório” dos católicos, ou ainda o “Inferno” dos evangélicos. Eu sinceramente não culparia ninguém. A dor da família seria levada aos poucos pelo tempo. Egoísmo seria ficar e faze-los sofrer com minha incapacidade de progredir, caminhar com minhas próprias pernas e finalmente realizar o sonho que toda mãe tem para seus filhos. Viva a Família Icaro com seus bipolares e depressivos, os que já se foram e os que carregam as novas sementes desta maldição. Às vezes me pergunto quem foi primeiro e como foi o seu fim, o primeiro ancestral a enfrentar a si mesmo. Hoje escrevo isso friamente, tão natural como o inicio do meu dia. Parece que a morte sempre ronda aqueles que sofrem durante muitos anos por algum tipo de depressão. O mesmo para quem tem câncer ou alguma doença de difícil tratamento ou cura. A palavra “morte” já não tem mais tanto pesar e poder. Acredito que os ocidentais vêem a morte de uma forma ignorante e temerária. É o fim, apenas isso. Para os orientais é parte de um ciclo que não possui inicio, meio e fim. Apenas existe, ou talvez até possua um fim, mas visto sem imagens de caveiras carregando foices, sangue, dor e sofrimento. Acredito também que a morte representada por um ceifador cadavérico, só é vista desta forma por aqueles que não acreditam numa outra vida, ou no dito ciclo que eu tentei explicar. De qualquer forma, eu fui procurar ajuda...