sábado, 24 de outubro de 2009

Misticismo


Tenho uma amiga que atualmente queixa-se por sentir-se muito ansiosa e angustiada ao andar de trem, diz que não suporta todas aquelas pessoas ao seu redor, que sente desejo de agredi-las quando ocasionalmente tocam em seu corpo. Acrescenta que não sente mais vontade de sair de casa, que não atende mais aos telefonemas da família. Que ao pensar em todos os compromissos que exigem sua presença fora de casa, ou do seu escritório, uma sensação ruim começa a toma-la. Durante nossas conversas, eu acabei revelando a ela que eu sofria de transtorno bipolar. A principio tive que explicar o que era isso, mas ela não teve dificuldades em compreender. Criamos um pouco de confiança um pelo outro, e passamos a conversar sobre diversos assuntos. Ela disse que a uns cinco anos atrás, começou a ouvir vozes, e que algumas vezes chegou ferir os braços com um estilete em decorrência disso. Preocupada com a situação, acabou procurando centros espíritas de diversas denominações, para tentar descobrir o que estava acontecendo. Foi então que revelaram que ela tinha uma espécie de mediunidade, e que isso deveria ser trabalhado. Satisfeita com a explicação, não procurou médicos ou psicólogos. Passou a seguir as orientações que foram dadas. Atualmente com os “excessos de ansiedade”, procurou novamente explicações espirituais para tais fenômenos. Disseram-lhe que sua mediunidade está sendo desenvolvida, e que isso abriu seus canais para que vários tipos de espíritos a importunassem. Bem, o que dizer a uma pessoa que depositou na religiosidade a solução de seus problemas psíquicos? Que acredita possuir um dom dado por Deus, que obviamente trás alguns incômodos, mas que não deixa de ser uma ferramenta para o bem? Decide que não vou interferir. Já conheci pessoas com este tipo de problema, e que foram parar em hospitais ou clinicas, após uma forte crise, ou comportamento autodestrutivo. Que confundiram distúrbios psiquiátricos com dons dados por Deus. Ontem conversamos por alguns momentos, e ela disse que começou a freqüentar uma terapeuta para resolver algumas questões pessoais. Quem sabe se através disso ela não procure explicações um pouco mais cientificas para sua realidade? Na verdade eu não sei. Sou seu amigo, mas não posso julga-la. Acho que a própria decisão de procurar uma terapeuta foi uma influencia minha. Da minha realidade, e da forma como enfrenta a minha bipolaridade. Não tenho certeza. Espero que ela fique bem, e tenha a certeza que sempre poderá contar comigo.