terça-feira, 27 de outubro de 2009

Após surto psicótico, policial transexual acusada de assalto é presa e algemada em hospital

A investigadora de polícia transexual Renata Pereira Azevedo, de 30 anos, foi presa no último dia 15 sob acusação de roubo - artigo 157 do Código Penal, que pressupõe "grave ameaça" à vida.

A informação foi publicada no último domingo (25) pelo jornal Folha de S. Paulo na reportagem intitulada "Vida nada cor-de-rosa", de Laura Capriglione e Marlene Bergamo.

Na última sexta-feira o Condepe - Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana -, da Secretaria da Justiça, apresentou a denúncia de "Gravíssimas violações dos direitos humanos" que envolvem a prisão da trans, em Campinas.

De acordo com a reportagem, Renata não portava arma alguma quando foi presa. Em sua bolsa foram encontradas maquiagem e um celular Samsung SGH-C276 (preço: R$ 139), que não pertencia a ela.

"Renata estava surtada. Xingou tudo e todos. Na Corregedoria da Polícia em Campinas, para onde foi levada, distribuiu cusparadas. Ao delegado titular, perguntou: 'Você é o Serra?', 'Você é o Lula?', 'Você é uma maricona?' Mesmo algemada, arremessou na autoridade a sandália que calçava. Cantou em italiano para o pai, que então já acompanhava a prisão do filho. Tirou a roupa", relata a matéria.

A transexual foi diagnosticada por Gabriela di Mattia, psiquiatra do Samu (Serviço de Atendimento Médico de Urgência) com "transtorno afetivo bipolar -episódio maníaco". Foi dopada com Haldol (antipsicótico) e prometazina (hipnótico) e não assinou o boletim de ocorrência. Apagou.

Segundo o jornal, a policial acordou amarrada pelo peito e braços a uma maca no Pronto Socorro do Hospital das Clínicas de Campinas. Renata estava algemada à cama e um PM armado fazia a escolta. A reportagem aponta que durante cinco dias - entre as 22h57 do dia 15 e as 9h do dia 20 - quando foi levada para um leito na Psiquiatria do Hospital das Clínicas, a trans ficou exatas 100 horas e 43 minutos deitada de costas, amarrada e algemada.

Na última quarta-feira (21), o psiquiatra Paulo César Sampaio, psiquiatra do Governo do Estado, encontrou Renata ainda presa à cama quando a visitou, a pedido do Condepe.

"Está claro que a paciente não pode ser responsabilizada por seus atos durante um surto psicótico; portanto, não poderia responder por roubo e estar algemada. É de uma injustificável crueldade física e psicológica algemá-la na ala psiquiátrica", disse Sampaio ao jornal depois de analisar relatórios médicos e entrevistar a mãe.

O jornal relata a saga de Renata até o episódio do dia 15. A trans mora com a família em uma casa de classe média. Tem dois irmãos, estudou em colégios tradicionais de Campinas e está no quinto ano de Direito na PUC. Prestou concurso para investigador de polícia e passou. A trans colocou o primeiro silicone nos quadris, quando tinha 18 anos. Na mesma idade, ainda tentou se matar e sofreu a primeira internação. "Tinha aparência masculina quando entrou para a polícia, aos 21 anos. Aos 24, passou a viver 100% como mulher- roupas, cabelo, maquiagem, unhas. Com 25, 'colocou peito', escreveram as jornalistas.

Em oito anos de polícia, entre licenças médicas, foram cinco transferências de departamento. Dois dias antes de ser presa, a mãe de Renata percebeu que ela não estava bem. "Ele estava agitadíssimo. Era mau sinal", conta. A trans dizia que era filha de Silvio Santos, ouvia vozes demoníacas em músicas de Ivete Sangalo, tinha a fórmula secreta da loteria.

No dia anterior à prisão, Renata apareceu à noite em um bar no centro de Campinas e causou confusão. No dia 15, hora do almoço, reapareceu com as mesmas roupas, sem ter dormido. Exigiu o celular de uma funcionária do bar e espatifou-o no chão. Saiu desvairada. Topou com um rapaz dentro de um carro VW Parati. Mostrou a carteira de policial e, aos gritos, tomou-lhe o celular. Depois disso Renata foi presa.

fonte: http://acapa.virgula.uol.com.br/site/noticia.asp?codigo=9569&titulo=Ap%25F3s+surto+psic%25F3tico%252C+policial+transexual+acusada+de+assalto+%25E9+presa+e+algemada+em+hospital