sábado, 7 de novembro de 2009

Amigos

Contrariando a muitos, vou dizer que a felicidade mora numa garrafa de bebida, num disco velho de rock, e na conversa com um amigo que lhe faz companhia quando você tanto precisa. Coisas simples, e que deveriam ser acessíveis sempre, mas que infelizmente estão se tornando raras em minha vida. Não peço que o diabo me leve ao teto de um templo e me prometa o mundo. Não preciso do carro do ano, de muito dinheiro no bolso, ou comer a garota mais bonita que aparecer na minha frente. Preciso apenas de alguns momentos que justifiquem a minha existência, que façam a vida valer a pena, sorrir mais do que chorar, sentir-se realizado com o que faz. Mas o que devo fazer quando isso não acontece? Hoje tive que mover montanhas para sair de casa e encontrar um amigo do qual eu havia prometido encontrar para treinar. Corpo cansado, sonolência, mais uma vez aquela vontade de permanecer deitado em algum canto esperando o tempo passar. Nestes momentos todos os argumentos parecem lutar inutilmente contra o corpo. Mais um dia torcendo para que algo aconteça e mude tudo. Mas eu não posso permanecer assim, sei que preciso lutar de alguma forma. Respirei fundo e lembrei que eu não decepcionaria apenas meu amigo, mas também o cara que estava me ensinando tanta coisa em troca apenas do meu respeito, da minha gratidão e fidelidade. Poucas pessoas compreendem esta relação. Joguei meu kimono dentro da mochila e segui a pé até a estação de trem. Passos lentos, sol quente, a mesma paisagem desde a minha infância. Nada parecia mudar de verdade, exceto pelas novas pichações nos muros, e as praças cada vez mais sujas e abandonadas, a decadência trazida pela falta de educação e cidadania de algumas pessoas. Após percorrer duas estações de trem, e quinze minutos de caminhada, eu chegava finalmente ao meu destino. Toquei a campainha e fui atendido pelo mestre, tentei disfarçar inutilmente a minha fisionomia de poucos amigos, conversamos brevemente e segui até o salão de sua casa, para varrer o chão e arrumar os tatames.  Meu amigo chegou logo depois, e nós três finalmente nos reunimos para treinar. Foram mais de duas horas de chutes, quedas, torções e imobilizações. No final de tudo, eu havia ganhado duas escoriações acima do ombro e um hematoma na canela. Mas apesar de tudo eu não estava mais triste. De alguma forma meu anjo da guarda havia feito sua lição de casa. Eu não gozava de plena felicidade, mas de alguma forma eu sentia um alivio em minha alma. Alguns demônios haviam ido embora dos meus pensamentos. Como eu poderia dar atenção a eles nas horas que permaneci no tatame?  A preocupação em aprender era bem maior, não havia espaço para mais nada. Acabado o treino, troquei o velho kimono suado pela roupa que estava toda amarrotada no fundo da mochila, e rumei na companhia de meu amigo até a estação de trem. Paramos no caminho para beber algo, éramos dedicados, mas de forma alguma éramos santos. Não desejávamos nos embebedar, mas apenas conversarmos como dois velhos conhecidos. Desta vez foi o momento da bebida, do rock antigo no rádio do bar, de ouvir, e ser ouvido. Senti-me vivo em perceber o quanto ele confiava em mim comentando sobre seus problemas pessoais. Das brigas com alguns familiares, da falta de grana, do trabalho que tomava a maior parte do seu tempo, etc. Os velhos problemas de sempre. Após ouvi-lo, falei dos meus medos. Da crise depressiva que sempre ronda ao meu redor, da dificuldade em se adaptar com alguns medicamentos, da falta de grana, de trabalho, etc. As velhas batalhas e os velhos rumos. A tarde acabou bem. Agradeço a Deus por estar renovado, pelo anjo torto que me segue. Com certeza eu não me daria bem com um que fosse perfeito.

O amigo é a resposta aos teus desejos. Mas não o procures para matar o tempo! Procura-o sempre para as horas vivas. Porque ele deve preencher a tua necessidade, mas não o teu vazio.
Khalil Gibran
 
Não é amigo aquele que alardeia a amizade: é traficante; a amizade sente-se, não se diz.
Machado de Assis

O uísque é o melhor amigo do homem. É o cachorro engarrafado.
Vinícius de Moraes





Sobre o Transtorno Obsessivo Compulsivo

Nos textos "Misticismo" e "Idade das Trevas", eu relatei um caso familiar de TOC - Transtorno Obsessivo Compulsivo, sem dar maiores explicações sobre o tema. Da mesma forma que existem pessoas que necessitam conhecer um pouco mais sobre o Transtorno Afetivo Bipolar, o mesmo aconteceria com o TOC. Vou deixar um texto sobre o tema para que diminuam as dúvidas. Pesquisei num site popular onde a linguagem parece acessível a todos.

O chamado Transtorno Obsessivo-Compulsivo ("TOC") (na literatura em inglês Obsessive-Compulsive Disorder – "OCD") é uma doença em que o indivíduo apresenta obsessões e compulsões, ou seja, sofre de idéias e/ou comportamentos que podem parecer absurdas ou ridículas para a própria pessoa e para os outros e mesmo assim são incontroláveis, repetitivas e persistentes. A pessoa é dominada por pensamentos desagradáveis que podem possuir conteúdo sexual, trágico, entre outros que são difíceis de afastar de sua mente, parecem sem sentido e são aliviados temporariamente por determinados comportamentos. O Transtorno Obsessivo-Compulsivo é considerado o quarto diagnóstico psiquiátrico mais freqüente na população. De acordo com os dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), até o ano 2020 o Transtorno Obsessivo-Compulsivo estará entre as dez causas mais importantes de comprometimento por doença.  Além da interferência nas atividades, os Sintomas Obsessivo- Compulsivos (SOC) causam incômodo e angústia aos pacientes e seus familiares. Apesar de ter sido descrito há mais de um século, e dos vários estudos publicados até o momento, o Transtorno Obsessivo-Compulsivo ainda é considerado um "enigma". Questões como a descoberta de possíveis fatores etiológicos, diversidade de sintomas e como respondem aos tratamentos continuam sendo um desafio para os pesquisadores. Estudos indicam que uma das dificuldades para encontrar essas respostas deve-se ao caráter heterogêneo do transtorno. Vários estudos têm apontado para a importância da identificação de subgrupos mais homogêneos de pacientes com Transtorno Obsessivo-Compulsivo. Esta abordagem visa buscar fenótipos mais específicos que possam dar pistas para a identificação dos mecanismos etiológicos da doença, incluindo genes de vulnerabilidade e, por fim, o estabelecimento de abordagens terapêuticas mais eficazes. Alguns subtipos de Transtorno Obsessivo-Compulsivo têm sido propostos. Dentre eles, dois subtipos bastante estudados correspondem aos pacientes com início precoce dos Sintomas Obsessivo- Compulsivos. e o subtipo de Transtorno Obsessivo-Compulsivo associado à presença de tiques e/ou síndrome de Tourette.  Esses dois subgrupos de pacientes apresentam características clínicas, neurobiológicas, de neuroimagem, genéticas e de resposta aos tratamentos distintos e que os diferenciam de outros pacientes. É importante ressaltar também que esses dois subtipos apresentam características semelhantes, o que dificulta a interpretação de sua natureza, ou seja, torna-se difícil diferenciar se as características encontradas são devido ao início precoce dos Sintomas Obsessivo- Compulsivos ou à presença de tiques. Compulsão é um comportamento consciente e repetitivo, como contar, verificar ou evitar um pensamento que serve para anular uma obsessão. Outros exemplos de compulsão são o ato de lavar as mãos ou tomar banho repetidamente, conferir reiteradamente se esqueceu algo como uma torneira aberta ou a porta de casa sem trancar. Deve-se deixar claro porém que para que esses comportamentos sejam considerados compulsivos, devem ocorrer em uma frequencia bem acima do necessário diante de qualquer padrão de avaliação. Acomete 2 a 3% da população geral. A idade média de início costuma ser por volta dos 20 anos e acomete tanto homens como mulheres. Depressão Maior e Fobia Social podem acometer os pacientes com Transtorno Obsessivo-Compulsivo ao longo da vida.

origem: Wikipédia, a enciclopédia livre - http://pt.wikipedia.org/wiki/Transtorno_obsessivo-compulsivo