segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Diferente...

Qualquer um que for nomeado “meu amigo”, provavelmente merecerá uma estátua de bronze na praça principal. O sujeito terá que suportar ao seu lado alguém temperamental, excêntrico, irritadiço, irônico, sarcástico, e com algumas restrições de conduta. Das “qualidades” que citei, são na maioria atribuídas pela soma da minha própria personalidade com a bipolaridade. Como eu poderia ter certeza de onde acaba uma coisa, e começa outra? Não consigo fazer esta separação, não me lembro mais como eu era antes de ser diagnosticado com transtorno de humor. Talvez eu fosse mais calmo, mais tranqüilo e menos depressivo. Não tenho certeza, mas eu não era assim. Das restrições que evidenciei, faz parte da lista a impossibilidade de beber livremente, dormir no horário que desejar e exagerar na comida. Todas elas devido aos medicamentos que faço uso, e a rotina que procuro seguir para atenuar a possibilidade do surgimento de um quadro de mania. Pelos “detalhes” citados, eu já perderia uma legião de colegas e amigos de balada. Quem permaneceria ao lado de alguém assim? Sigo minhas observações, com a lista de preferências pessoais, rotinas, gostos musicais, etc. Nasci no país do futebol, mas não sofro na frente da TV pelo time do coração, ou pela seleção brasileira. A não ser que seja numa final de copa do mundo, neste caso eu me submeto a euforia geral. Sinceramente desconfio que não exista “vida inteligente” regendo todos aqueles programas de “mesa redonda” que preenchem a programação televisiva em certos horários. Outro detalhe, qual seria o motivo de chamar um programa de “Esporte Total”, se noventa porcento de sua programação é dedicada ao futebol? Não se fala de boxe, taekwondo, handebol, tênis de mesa, judô, esporte radicais, etc. Não seria melhor nomeá-lo de “Futebol Total?” Não dá, prefiro assistir documentários, noticiários, ou até programas de culinária. Brinco com alguns colegas dizendo que o único time que vale a pena assistir durante horas, são as meninas do vôlei. Carismáticas, bonitas e muito “saudáveis”.  Devo ser realmente um cara muito chato, por não gostar do esporte nacional e que muitas vezes acende acaloradas discussões em rodas de “machos”. Se futebol lembra comemoração, também lembra bebida, que por sua vez lembra cerveja. Prefiro vinho, licores, bebidas que não sejam tão pesadas. Não gosto de axé, pagode ou funk. E com este tipo de escolha, deixo de lado oitenta porcento dos bares e danceterias da região onde moro. Também não sigo o estilo de colocar um chapéu de cowboy, colar um adesivo de alguma comitiva na traseira do carro, e seguir para algum rodeio ver peões toscos vestidos ao estilo Marlboro torturando animais. Gosto de praias, viagens, e longos passeios, mas prefiro faze-los fora da alta temporada. De comer na companhia de amigos, de receber telefonemas ou mensagens. Aprecio uma boa conversa com pessoas engraçadas, ou inteligentes e que possam me ensinar algo. No final das contas não sou um alienígena, não sou tão difícil de agradar. Um pouco diferente talvez. No entanto, parece que as pessoas estão cada vez mais iguais entre si. Poucas tentam ser autenticas. Há muitas pessoas fazendo sempre as mesmas coisas, pensando da mesma forma, ou vivendo do mesmo jeito. Não sei se é culpa da novela das oito, do Jornal Nacional, ou de alguma conspiração secreta (risos). Vejo isso entre meus colegas de convívio, na faculdade, no metro, no ônibus, na minha família. Não entrarei numa discussão sociológica ou antropológica sobre isso, não desejo seguir por esta linha. Diante disto os “originais” acabam sendo rotulados como chatos, excêntricos, politizados, demagogos, arrogantes. Conseqüentemente afastando algumas pessoas ao seu redor. Talvez faça parte do processo de tentar viver a vida de uma forma diferente. Não de forma assustadoramente diferente, mas nas pequenas e sensíveis coisas. Não tenho certeza se as minhas palavras foram compreendidas, se consegui dar o meu recado. Quem sabe? Quando não vale a pena lutar por aquilo que acreditamos? Quem quer ser o meu amigo?

“Outrora, os melhores pensavam pelos idiotas; hoje, os idiotas pensam pelos melhores. Criou-se uma situação realmente trágica: — ou o sujeito se submete ao idiota ou o idiota o extermina”.


Nelson Rodrigues