sábado, 21 de novembro de 2009

Rotina



Sem novidades, sigo brigando com o meu sono, meu desanimo e minha falta de energia. Por alguns dias sinto dificuldades para dormir, em outros tenho vontade de ficar o tempo todo na cama. Falta energia, motivação e ânimo. Tenho a sensação de pesar uma tonelada e estar constantemente de ressaca. Tudo isso está me afetando, preciso realmente conversar com meu psiquiatra. Como falta grana, vou adiando a consulta. Enquanto tem medicamento guardado sigo esperando para vê-lo apenas quando meus estoques de medicamentos estiverem próximos de acabar. Não é o correto a fazer, mas somando as consultas terapêuticas, as psiquiátricas, e os medicamento a conta fica alta no final do mês. Confesso que eu poderia ser atendido pelo convênio, como fiz algumas vezes. No entanto, procuro evitar tais circunstâncias. Quando recorri a tal solução, eu me senti como se fosse um espécime portador de algum vírus maligno, ou como se estivesse com alguma prostituta tentando me satisfazer o mais rápida possível para se livrar logo de mim. Não tenho culpa que o meu convênio paga pouco pelas consultas. Do meu ponto de vista quero o tempo necessário para ser ouvido, resolver o meu problema, e ter a certeza de seguir pelo melhor caminho. Consultas de cinco minutos são uma ofensa para quem realmente precisa. Também não posso condenar toda a classe médica por causa de alguns maus elementos, mas deixo meu protesto registrado. Por algum tempo eu recorri ao psiquiatra do sistema único de saúde. Psiquiatra e remédio de graça, deveriam ser uma combinação perfeita. Deveria, pois as consultas tinham grandes intervalos entre elas, da última vez, fiquei quatro meses sem ver a cara do médico aguardando o retorno. No meio deste período acabei passando por uma crise depressiva, o que me levou a questionar junto ao médico a eficácia do tratamento. Em meias palavras ele tentou empurrar mais uma vez o mesmo medicamento, um estabilizante de humor que eu já fazia uso muito antes de ser o seu paciente. O problema de trocar constantemente de psiquiatra é este. Ele não acompanha toda a sua história, a evolução do transtorno, e suas lutas pessoais. Do meu ponto de vista isso pode ser muito complicado. Infelizmente a minha queixa não foi bem recebida. Talvez para ele aquele medicamento fosse o mais indicado para um transtorno bipolar de humor, mas não era para o meu caso. Ficamos neste impasse, e sendo assim, acabamos por não chegar num acordo. Preferi deixar marcado uma consulta de retorno, na esperança de convence-lo sobre uma possível mudança na próxima vez. Nesta última crise em questão, eu fui atendido por um médico particular, o mesmo que é responsável atualmente pelas minhas consultas. Não tenho queixas quanto a este, na verdade até me surpreendeu muito. Se eu pudesse permaneceria com ele sem problema algum. Vamos ver o que acontece. Atualmente estou sem trabalho, e tenho outras prioridades além do meu tratamento. Apenas 13% dos brasileiros fazem faculdade, numa porcentagem ainda menor estão aqueles que possuem pós-graduação. Brevemente farei parte deste time, e isso deveria ser uma ferramenta para agilizar a minha procura por emprego. Uma pós turbinando meu currículo. Infelizmente não é isso o que acontece, e já ouvi umas duas ou três professoras dizendo que o nosso curso não é valorizado no mercado. Pós-graduação em saúde mental e psiquiatria, para alunos formados em enfermagem. Racionalmente falando é uma profissão um tanto difícil e complexa. Cuidar de uma classe de pacientes que vão desde deficientes cognitivos, passando por portadores de diversos transtornos como esquizofrenia, anti-social, boderlaine, bipolares, Mal de Parkson (entre tantos outros) e terminando na crescente população de dependentes químicos dos centros urbanos. Ironicamente não faltam pacientes. O que falta são centros de tratamento e recursos para tal área. O estado não cumpre o seu papel em dar ao cidadão o que é constituído por lei. E no caso dos hospitais privados, são as cirurgias, exames complexos, centros coronarianos entre outras especialidades que realmente rendem lucro. A enfermagem psiquiátrica é uma profissão para o futuro. Alguém poderia perguntar qual foi o motivo de ter sido esta a minha escolha? Psiquiatria é algo totalmente diferenciado das outras especialidades. È necessário conhecer o ser humano a fundo, a sua história, e não apenas o da doença. Não existem três pacientes com o mesmo transtorno e que hajam de mesma forma. Tudo pode evoluir de uma forma inesperada mesmo seguindo o tratamento padrão. Não existem exames que identifiquem as patologias. Além de tudo isso, eu sou um portador de transtorno psiquiátrico. É algo que ajuda o meu autoconhecimento, no diferenciamento da forma como eu trato meus pacientes. Sei o que é dor psíquica, depressão, efeito colateral de medicamentos, mania, euforia, hipomania, preconceito, etc. Na verdade existem muitos profissionais da área da saúde que são portadores, mas escondem, devido ao preconceito. Isso também é um tema bem tortuoso. Mas voltando a temática da falta de estrutura. Haverá um momento em que o estado não poderá mais ignorar a crescente multidão de pessoas acometidas pelas mais diversas patologias psiquiátricas, e muito menos fingir não enxergar o batalhão de dependentes químicos expostos pelas câmeras da TV e apontados pela própria sociedade. Só espero que isso não demore muito, e que algo não seja feito apenas pensando nos prejuízos que tais cidadãos trazem para os cofres do país. 

Para saber um pouco mais sobre a questão, procure por “CAPS” e “Reforma Psiquiátrica”.