sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Sexta-Feira

19:30h Sexta-Feira – Depois de 20 horas sentado numa das poltronas do salão de eventos de um hospital escola, finalmente chega ao fim o curso de dois dias sobre dependência química. Durante este período ouvi tudo o que meus ouvidos agüentaram sobre redução de danos, centros de assistência psicossocial, legislação sobre drogas, políticas publicas, etc. Agora estou pronto para mudar o mundo, só me falta um emprego. Este detalhe me incomoda muito, e cada vez mais não deixo de atribuir a ele parte do meu mau humor de fim de ano. Apesar do cansaço pela maratona, estou distante de casa, e preciso esperar um pouco mais antes de ir embora, o metro está completamente lotado neste horário transportando milhares de pessoas que retornam ao lar após um dia de trabalho. São mais de vinte estações até a minha casa, mais de uma hora de viagem caso o percurso fosse feito de ônibus. Sem uma idéia melhor, resolvo caminhar um pouco pelas proximidades do hospital através da avenida paulista e rua augusta seguindo até o centro da cidade. Vou matando o tempo, e observando a paisagem e a “fauna” urbana. Não recebi nenhuma intimação via celular até o momento, não tenho namorada ou esposa me esperando em casa. Nenhum plano mirabolante para o final de semana, na verdade pensar sobre a vida me faz mal. Preciso olhar a paisagem, tirar as obsessões da cabeça. Se a paulista se destaca pelos imponentes edifícios e agencias bancárias com as decorações natalinas típicas desta época do ano, pela rua augusta o contraste fica a cargo dos cafés, restaurantes, bares, danceterias, boates e “inferninhos” exibindo cartazes de mulheres seminuas ao longo da rua. Aos poucos, em plena sexta-feira, as calçadas são tomadas por mesas e cadeiras em frente aos bares que ficarão lotadas de freqüentadores em busca de bebida e diversão, nas esquinas e travessas são as prostitutas com roupas ousadas que se destacam. São elas que contribuem para tornar a rua famosa, e sinceramente eu não acredito que consigam retira-las mesmo com a reforma cultural e a revitalização que estão propondo. Paro num café para beber algo, e vejo uma garota surpreendendo um rapaz com um beijo. Por alguns minutos fico com inveja, tento me lembrar da última vez que isso me aconteceu, e acabo lembrando de coisas que deveria ter deixado para trás Estou muito sensível nestes dias. Culpa do final de ano, da troca do meu medicamento, do desprezo que sofro por parte da minha filha, dos amigos que aos poucos se foram, da falta de emprego, e da minha terapeuta que acredita que eu deva ingressar no funcionalismo público, pois sendo um paciente psiquiátrico existe a possibilidade das crises tornarem minha permanência num emprego comum impossível. Minha família que deseja que eu estampe um sorriso na cara, e passe o final de ano socado num apartamento alugado na praia com outras dez pessoas fingindo ser feliz. Penso nos esforços sem resultados, na pós que me decepciona e suga a grana que peguei emprestado, nas entrevistas sem retorno, nas minhas estratégias falhas. Tenho vontade de raspar a cabeça, cortas os pulsos, beber, fumar, ou fazer algo que alivie meus sentimentos. Respiro fundo e tento manter a imagem, lembro do mantra “cada um com seus problemas” que aprendemos desde cedo na vida. Na rua augusta pessoas animadas e coloridas chegam para a diversão, outras sérias ainda retornam para casa, ou permanecem impacientes no ponto de ônibus. Parece que todos têm uma missão nesta vida. Termino minha bebida de gosto amargo e sigo o meu caminho. Mais dez minutos e estarei no metro República, depois são doze estações até minha casa. Sorria e finja que está tudo bem. Todos esperam isso de você, e a vida segue. Até o dia em que você liga a tv e se depara com um noticiário anunciando que alguém entrou atirando numa repartição pública, e depois acabou com a própria vida, ou que um garoto tornou reféns alguns colegas do seu colégio com uma arma em punho. Pronto! A bomba relógio explodiu. O monstro que crescia silenciosamente vazou pelos poros. O cidadão exemplar mostrou sua verdadeira face. Quantos monstros existem por ai?  Por quanto tempo você amontoa seus sentimentos ruins em algum canto da mente? Por quanto tempo você consegue apenas sorrir e fingir que está tudo bem?

Agora eu sei

Zero – Kiko Zambianchi

Há muito tempo eu ouvi dizer,
Que um homem vinha pra nos mostrar
Que todo mundo é bom e que ninguém é tão ruim
O tempo voa e agora eu sei
Que só quiseram me enganar
Tem gente boa que me fez sofrer,
Tem gente boa que me faz chorar

Agora eu sei, e posso te contar,
Não acredite se ouvir também, que alguém te ama,
E sem você não consegue viver
Quem vive mente mesmo sem querer
E fere o outro, não pelo prazer,
Mas pela evidente razão, sobreviver,

Não é possível mais ignorar,
Que quem me ama me faz mal demais
Mas ainda é cedo pra saber,
Se isto é ruim ou é muito bom

O tempo voa e agora eu sei
Que só quiseram me enganar
Tem gente boa que me fez sofrer,
Tem gente boa que me faz chorar

Quem vê seu rosto só pensa no bem,
Que você pode fazer a quem
Tiver a chance de te possuir

Mal sabe ele como é triste ter
Amor demais, sem nada receber,
Que possa compensar, o que isto traz de dor

Tudo isto me traz de dor
O que isto traz de dor
Tudo isto me traz de dor
O que isto traz de dor