quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Arquivo Morto

Antigo baú com destino certo: Porto de Santos - Brasil
Ele está chegando, 2011 está chegando... Começam as expectativas e planos para o próximo ano. Pode parecer um pouco cedo para algumas pessoas, para outras o que mais interessa sãos as festas de final de ano. Eu me baseio pelas minhas próprias experiências, neste caso eu preciso de agenda, planilha, postite e lembrete no celular. Mesmo assim corro o risco de perder algum detalhe importante entre as minhas labilidades de humor. O bolso do meu jaleco é repleto de papéizinhos com anotações referentes ao meu plantão, na minha mochila registros sobre livros, cursos, projetos e treinos que desejo fazer. No armário do meu quarto mais anotações processadas de diversas formas. Muitos vão para o lixo, no entanto, outros vão ficando e aos poucos se multiplicando. Vestígios de viagens, pessoas, lugares, situações, lembranças impressas e registradas das mais diversas formas. Alguns que deveriam ser considerados como insignificantes vão tornando-se importantes. Meu avô que fugiu da segunda guerra mundial da Itália buscado refugio no Brasil, manteve desde a sua chegada a este país até o seu falecimento um baú em seu quarto. A chave do cadeado estava sempre em sua cintura, não permitia que ninguém tivesse acesso ao seu tesouro. Quando faleceu finalmente, abriram o velho caixote de madeira e metal. Dentro haviam moedas e cédulas trazidas de sua terra natal, um sapatinho de uma filha que havia morrido quando ainda era criança, roupas de formatura de algumas de minhas tias, documentos, certidões de nascimento, coisas das mais diversas. Se fosse deixado apenas o que realmente era necessário a ser guardado, talvez apenas um décimo de que estivesse ali permaneceria. Sou geneticamente complicado. Está no sangue, mas ainda não estou guardando toneladas de lixo dentro do meu quintal como os obsessivos compulsivos. Ainda não! Deixem meu pequeno desvio de comportamento em paz.. Tenho outras coisas mais importantes para me preocupar.

Na minha sincera opinião esta necessidade de documentar o passado, guardar vestígios e lembranças, nada mais é do à dificuldade de se desprender do que já se foi. Silenciem os psicanalistas de plantão. Que batam de frente com um muro opiniões contrárias. Hoje vou fazer uma faxina. Minha caixa de entrada do e-mail possui coisas recebidas desde 2005. Confesso ser um pequeno museu de situações, fases e principalmente pessoas que já se foram. Amigos, amigas, ex-alunos de academias em que eu dava aulas, namoradas, casos sérios ou casos complicadíssimos. Confesso sentir saudades de muitas pessoas. Sei que tudo tem um inicio, um meio e um fim. Mas sofro pela forma com expulsei a maioria delas de minha vida. Posso dizer que ao menos 80% devido a minhas fases de labilidade de humor divididas em depressão, mania, hipomania e homem das cavernas. Sim, extremamente ignorante e controlado pelos instintos. Estou nostálgico. Minha depressão de final de ano está pegando pra valer. Sozinho em casa, todos se foram para o litoral sul. Eu trabalharei amanha. Hoje roerei as saudades e quem sabe um copo de vinho me acompanhe. Saudade de quem também me ensinou a apreciar vinhos.

O tempo não pára! Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo...
Mário Quintana

sábado, 25 de dezembro de 2010

Postagem de Natal

"Tudo que seja de algum modo capaz de incitar as idéias de dor e de perigo, isto é, tudo que seja de alguma maneira terrível ou relacionado ao terror, constitui uma fonte do sublime, isto é, produz a mais forte emoção de que o espiírito é capaz. Digo a mais forte emoção, porque estou convencido de que as idéias de dor são muito mais poderosas do que aquelas que provêm do prazer" 

Por Edmund Burke (1729 - 1797) investigador e professor de psicologia na Brown University, foi pioneiro no estudo da percepção das formas e da interação entre processos mentais e os pequenos movimentos inconscientes do corpo.



24/12 - 23h: Acabei de realizar a minha ceia, tomei meu comprimido para dormir e agora espero que o efeito venha trazer um pouco de paz para as minhas angústias. Todos saíram de casa para festejar. Reunidos ao redor da mesma mesa tios, tias, primos e alguns seletos convidados. Preferi ficar em casa e adormecer mais cedo. Natal me traz lembranças de uma época onde tudo era mais sincero, mais inocente, sem tantas pompas, mas com o calor que só algumas pessoas que já se foram desta vida conseguiam proporcionar. Pode ser apenas nostalgia, falta de serotonia, medicação inadequada. Quem sabe? Os outros natais não foram diferentes, portanto devo ter criado um padrão de comportamento para as festas de fim de ano. Às 19 horas de amanhã receberei plantão no hospital onde trabalho, o mesmo ritual se repetirá no primeiro dia do ano. Será um dia difícil, encontrarei pacientes enclausurados dentro de uma instituição psiquiátrica ao invés de estarem com seus familiares. Por mais que seja necessário não deixa de ser triste. Se o Natal não é bom para mim, não significa que eu ignore o quanto ele é importante para os demais. Estou na metade de uma garrafa de vinho lambrusco e confesso que o teclado começa a ficar pequeno demais para que eu o acerte corretamente. Vou persistindo. Péssimo exemplo para meus colegas bipolares. Misturar antidepressivo com bebida alcoólica, mas hoje é um dia especial. Por isso me perdoem. Perdoe também por eu ser demasiadamente humano. Acho que um bipolar sabe mais do que ninguém o quanto os sentimentos podem nos levar a deriva. Seria um belo tema para um livro, poemas, citações, pesquisas. Sentimento como bússola de nossas vidas. Nós bipolares. Li alguma coisa sobre Freud exemplificando que o “estado de mania” era uma espécie de embriagues, entorpecimento, euforia podendo ser comparada a sentimentos que muitas vezes almejamos em nossa busca pela felicidade. Embora irresponsável e compulsivo algo que de certa forma traz satisfação. Talvez esta não seja a melhor definição. Estou limitado pelo teclado minúsculo, o lambrusco encharcando meus neurônios e o sono se aproximando. Por falar nisso já é Natal!  Em algum lugar minha família está comemorando festivamente. Faz-me lembrar aquelas propagandas de final de ano. Família sorridente ao redor da mesa. Estou a salvo na minha caverna, no meu esconderijo, no meu abrigo. Limitado pela escrivaninha, o teclado do meu not book, a taça e a garrafa de vinho que se esvazia rapidamente. Saudades dos meus avós, da minha madrinha, do meu melhor amigo de infância que morreu num acidente de transito. Sinto saudades, algumas lágrimas rolam pelo meu rosto. Vou terminar este texto medíocre por aqui. Deitar na cama. Tentar encontra-los em meus sonhos. Quem sabe? Pode ser apenas a labilidade de humor. De qualquer forma Deus está sendo bonzinho comigo. Estou conseguindo me manter em pé e ajudar outros em situações piores do que eu. Pois no final das contas é uma luta solitária. Feliz Natal para todos nós! Somos guerreiros! Somos sobreviventes!

Feliz, feliz Natal, a que faz que nos lembremos das ilusões de nossa infância, recorde-lhe ao avô as alegrias de sua juventude, e lhe transporte ao viajante a sua chaminé e a seu doce lar!
Charles Dickens