sexta-feira, 26 de março de 2010

Flores e Espinhos

A última vez que parei na frente de um computador eu estava procurando detalhes sobre uma medicação que deveria ser ministrada num paciente. Parece exagero, mas não é. Sinto saudades de poder estar aqui e falar um pouco de mim, dos meus pensamentos, idéias, depoimentos e devaneios... Não posso reclamar, desejei muito este emprego, e prometi a Deus que eu me dedicaria como nunca. Algumas vezes testo meus limites com noites mal dormidas em plantões intermináveis, estresse, comida ruim, pouca diversão, ou atividades que me façam descansar, sentir prazer ou simplesmente relaxar. Nunca consegui algo em minha vida sem sacrifícios. Devo ter direcionado toda a energia que eu gastava com dúvidas, auto-piedade, e lembranças de coisas mal resolvidas para tentar me levantar. Estou fazendo algo realmente novo, e desta vez não esqueço de todas as cicatrizes que marcaram minha jornada. Não há bandidos ou mocinhos, está tudo em minhas mãos. Nem sempre ouvirei aquilo que desejo, ou serei tratado pelo que realmente sou. Mas e dai? Não posso perder tempo culpando a natureza, ou pessoas que não me compreenderam, ou que eu não fiz compreender. Mas sinto falta da terapia que ficou em segundo plano, do meu mestre que não responde aos meus e-mails (por eu ter abandonado as aulas de forma não repentina), das vezes que eu saia para assistir um filme, beber algo, ou ver gente conversando e sorrindo. A vaga de "folguista" não me permite ter horários fixos ou uma agenda programada. Perdi as contas de quantas vezes eu trabalhei na mesma semana em horários completamente diferentes. Não estou reclamando, tenho aprendido muito. As dinâmicas envolvendo as rotinas de um hospital mudam nos diferentes turnos. Eu não poderia ter vivenciado isso trabalhando de outra maneira. Já me ofereceram um horário fixo para o próximo mês. Logo voltarei a treinar, fazer algo que me dê prazer e quem sabe comprar um cachorro para me fazer companhia..rs Sim, vou continuar com minha fobia a relacionamentos.  Estou saindo de casa sem me preocupar se terei grana para comer, comprar os materiais e livros da pós que estou terminando, pagar minhas inúmeras dívidas, etc. Se vai sobrar algo é uma outra história..rs Onde passo grande parte do meu tempo, encontro pessoas com transtornos afetivos, esquizofrênicos, transtornos de personalidade, dependentes químicos, e tantas outras patologias que preenchem as páginas dos manuais de psiquiatria. Jalecos brancos circulando por todos os lados, psicotrópicos, lágrimas, risos emotivos, gritos, desespero, agressividade, faixas de contenção, seringas e agulhas. Mas também existe compaixão, esperança, seriedade, solidariedade, empatia e a tão esperada "volta para casa". Deus abençoe todos aqueles que trabalham para tirar a dor da alma e da carne daqueles que sofrem. Beijos!


Flores e Espinhos


Nessa época do ano
Quando o frio vem chegando
E há menos flores que espinhos

Os dias perdidos vem a luz
Ainda éramos filhos
Éramos amigos

Até sermos engolidos
Pela vida sem brilho
Por nossos inimigos
Na rotina comum
E sou só um
Mas não sou um deles
Eu sou só um

E mesmo que pareça tolo e sem sentido
Eu ainda brigo por sonhos, eu ainda brigo