domingo, 28 de novembro de 2010

Os dois lados da moeda...

Este é meu site, blog, refúgio, diário, espaço, entre outras denominações são as “idéias, pensamentos e relatos de um bipolar” divulgando informações, esclarecimentos, algumas vezes meros devaneios, angústias, etc.

Como profissional da área da saúde trabalho em uma instituição que oferece tratamento para pessoas acometidas de patologias psiquiátricas e dependência química, por outro lado, também sou portador de transtorno afetivo. “Jornada dupla” nas vinte e quatro horas do dia. Percebo através do que ouço de familiares e dos próprios pacientes, que muita coisa sobre transtornos psiquiátricos ainda se baseiam no “senso comum”, enriquecido pela ignorância, religiões alienadoras, informações sensacionalistas, entre outros. Algum esclarecimento tem chegado através da mídia, mas ainda há muito que se fazer. Estou tentando apagar um incêndio com um conta-gotas, ao menos faço minha parte.

Hoje excepcionalmente abrirei meu coração sem jaleco, crachá, postura de terapeuta, etc. Faz 18 horas que estou acordado. A adrenalina do plantão desta noite ainda não baixou mesmo com o medicamento para dormir. Hoje serei eu mesmo, desta vez vou escrever coisas feias sem me importar muito com o que os outros pensarão. Seguirei o texto sem censura.


Apesar de todo este controle profissional e a responsabilidade de manter-me assistido por um psiquiatra e algum tipo de terapia, que me dê sustentabilidade necessária para manter-me no controle de meus sentimentos e ações, o perigo ronda. Não é raro que eu presencie enfermeiros, psicólogos, médicos clínicos e psiquiátricos acometidos por crises como qualquer paciente comum. Sim, há cardiologistas que fumam, endocrinologistas obesos, psiquiatras loucos, psicólogos problemáticos, enfermeiros viciados, etc. Devo dizer que na crise “somos todos iguais” e não deixo de meditar até onde a ciência consegue ser plenamente efetiva para todos os casos, lógico que há inúmeros fatores associados. Ainda não inventaram comprimido para a ignorância, falta de consciência, arrogância ou tantos fatores que ajudam a boicotar um tratamento. Mas o que acontece quando mesmo medicado os altos e baixos prevalecem? Quando os efeitos colaterais dos medicamentos parecem tão graves quanto à própria doença? Quando não se tem o direito de assumir um transtorno desta magnitude por medo de perder o emprego, ou prejudicar relacionamentos? Quando não se tem o direito de declarar quem realmente é por medo de rótulos e julgamentos? Será que tudo que é dito como alterações são realmente traços da doença? Ou da própria personalidade que não é aceita por ser excêntrica ou diferente? Lembrando que homossexualismo já foi tido como transtorno em menos de um século atrás. Até onde alguém tem o direito de forçar uma pessoa a permanecer numa internação involuntária contra sua própria vontade? Até onde o paciente é realmente ouvido na hora de escolher os medicamentos para o seu próprio tratamento? Questões eu tenho aos montes, mas respostas...

Algumas vezes cheguei a pensar que ter uma família consciente sobre meu problema poderia ser algo privilegiado, uma ajuda a mais para enfrentar os ímpetos do transtorno afetivo. Mas isso está longe da minha realidade. A primeira vez que tomaram conhecimento sobre tal fato, foi a pedido de uma ex-terapeuta que solicitou a presença de meus pais devido à desinformação que apresentavam. Nesta época eu nem imaginava que um dia estaria do outro lado, fazendo parte de uma equipe multiprofissional cuidando de doentes mentais. No ano seguinte, eu perdi dois primos que cometeram suicídio por sofrerem do mesmo problema que eu. Isso serviu de reforço para perceberem que a coisa era realmente séria. Fica claro que alienação também mata. Faz muitas vitimas, não apenas na psiquiatria. Doenças sexualmente transmissíveis, coronarianas, direção irresponsável com abuso de álcool, etc. No caso em destaque, o sujeito entra numa crise e a família não tem capacidade para compreender.Os mais ignorantes acreditam que seja um mal estar passageiro, algo que se cura com trabalho, livro de auto-ajuda ou fanatismo religioso. Outros chegam até a socorrê-los, mas quando os sintomas diminuem, deixam o remédio de lado acreditando estarem curados para sempre. O pior acontece quando é o patriarca ou a matriarca da família. Todos sofrem e aguardam ansiosos pelo retorno. Família pode ser sinônimo de porto seguro ou a base de muitos males. “Pais doentes, filhos doentes”.

Minha família

Se no próprio Olimpo os deuses gregos demonstravam sentimentos humanos e imperfeitos como raiva, inveja, ganância e ciúmes, o que não dizer de uma casa onde cada qual vive a sua maneira em baixo do mesmo teto. Seria natural haver discordâncias e por vezes atritos, mas eu me sinto como se eu fosse visto como potencialmente irritadiço, deprimido, etc. A bipolaridade me colocou neste patamar, o de propenso problemático. Sendo assim, se estou alterado o rótulo impede a causa da minha inquietação seja vista como algo de origem comum. Quando estou nervoso ou descontente, provavelmente não deve ser pela discussão que tive com meu pai por diferenças de opinião, ou desentendimento com o meu chefe, ou ainda qualquer causa que levaria um mero mortal a ter a mesma reação. Uma vez rotulado, fica o selo por onde quer que as pessoas saibam que você é bipolar. Já começam a perguntar se está tomando corretamente os medicamentos, ou se eles estão próximos de acabar. Poucas vezes alguém estendeu a mão quando realmente é necessário. Acham que o comprimido é mágico resolvendo todos os problemas existentes ou potenciais. Já cheguei a dormir mais de 20 horas em fases depressivas sem que alguém percebesse o que havia comigo. Fiz terapia por mais de sete anos. Descobri muitas coisas, e devo dizer que não virei adubo ainda graças a isso. Criei alguns mecanismos que me alertam quando estou passando dos limites, no entanto...

Ter uma vida assim até quando? Arriscando sempre perder o emprego? Ser descoberto? Não encontrar graça naquela piada que faz todos rirem? Comprimidos e terapia para tentar ser o que qualquer idiota consegue ser? Se ao menos houvesse uma vantagem. Algum poder especial, mas não há. Cruz da minha vida. Já levou duas pessoas de minha família. E ainda há outros bipolares eclodindo. De repente você fica sabendo que um primo foi para num Pronto Socorro por overdose de medicamentos, ou um ônibus passou em cima da cabeça de outro. Um aqui, outro ali. Não parou nisso, já sei de outros dois que começam a fazer tratamento pelo mesmo problema. Família grande, genética, situação, falta de informação, etc. Algumas vezes tento intervir, é inevitável tentar ajudar. Mas santo de casa não faz milagres, meu depoimento fica no ar como algo não valorizado. Bem, que cada um encontre seu caminho. É uma questão de tempo para descobrirem que o problema não é passageiro, definitivamente chegou para ficar.

Dos relacionamentos

Na última gaveta da minha escrivaninha guardo uma caixa onde anteriormente havia um porta retrato de madeira com a foto de uma ex-namorada, hoje serve como abrigo de algumas lembranças do passado. Meia dúzia de fotos e três cds com arquivos de vídeos e imagens. O meu “arquivo morto” de lembranças, ressentimentos e nostalgia. Parte deste ressentimento já se foi, mas as lembranças ainda permanecem. São registros de colegas da faculdade, amigos, ex-alunos da época em que eu dava aulas em academias, relacionamentos, casos, namoros, envolvimentos que não deram certo. Das namoradas e pretendentes recordo-me de seus perfumes, desejos, fetiches, gemidos, risadas, o gosto de suas bocas, de seus corpos, seus planos para o futuro, suas declarações de amor, promessas, no entanto, da mesma forma que o dia antecede a noite, no final das contas só restou o amargor, as lágrimas, o ressentimentos, a raiva. Mulheres belas, gostosas, interessantes, emancipadas e donas de si. O que houve de errado? Tento não me responsabilizar por todas as separações. Minha vaidade precisa disso, minha consciência diz o contrário. Numa palestra dirigida a bipolares no Hospital das Clinicas de São Paulo, ouvi um renomado médico e especialista de transtornos afetivos mencionar que mais de 85% dos bipolares tem problemas conjugais. Foi um tanto irônico, pois ao mesmo tempo em que ele disse isso um casal que estava no recinto levantou-se e foi embora. Ao meu redor a vida segue. Coito, sexo, fecundação, nascimento, crescimento e morte. Abençoados pelas santas igrejas, ou apenas pela lei da natureza. Pessoas envelhecem umas ao lado das outras pagando contas, engordando, ficando feias, assistindo o Jornal Nacional e a Novela das Oito. Seus filhos repetem o mesmo ritual, de um jeito ou de outro. Este é o sonho brasileiro. “Crescei-vos e multiplicai-vos”. Sou o único com mais de trinta e quatro anos e solteiro ao meu redor. Entre todas as minhas vontades, o desejo de não fazer mais ninguém como refém. Carro em alta velocidade, soco no pára-brisa, gritos, cenas, acusações, jogos de ciúmes, chantagens e tramas das mais diversas. Levei ao limite do que poderia ser suportado num relacionamento, às vezes sem perceber que estava repetindo sempre o mesmo jogo mudando apenas a pessoa envolvida. Depois que tudo acaba e as lágrimas secam, olho para trás e percebo que tudo queimou até o fim. Não sobrou nem ao menos a possibilidade de “sermos amigos sem rancor”. Consciente ou inconscientemente crio mecanismos patológicos e aterradores. Sofro tanto quanto faço sofrer. Secretamente desejo o que não posso ter, e quando chego perto demais, um alarme soa no fundo do meu ego pedindo que eu me retire. Tenho certeza que hoje estas mulheres são felizes e realizadas, por tudo o que fizeram por mim e pela insistência em lutar por algo que realmente acreditavam. Com certeza são felizes, alguém soube dar a elas o que mereciam.


Para sempre – Kiss

Repetidas vezes eu olho em seus olhos
Você é tudo que eu desejo
Você me capturou
Eu quero abraçar você, eu quero ficar bem perto de você
Eu nunca quero partir
Eu queria que essa noite nunca acabasse
Eu preciso saber

Poderia eu te abraçar por toda a vida?
Poderia eu olhar dentro dos seus olhos?
Poderia eu ter essa noite pra compartilhar?
Poderia eu ter você perto de mim?
Poderia eu te abraçar por todo o tempo?
Poderia eu, poderia eu ter esse beijo para sempre?
Poderia eu, poderia eu ter esse beijo para sempre? para sempre?

Repetidas vezes eu sonhei com esta noite
Agora você está aqui comigo
Você está perto de mim
Eu quero te abraçar, te tocar e sentir seu gosto
E fazê-la querer somente eu
Eu gostaria que esse beijo nunca terminasse
Oh querido, por favor

Eu não preciso quero que nenhuma noite passe
Sem você ao meu lado
Eu só quero que todos os meus dias
Sejam gastos ao seu lado
Vivendo apenas para te amar
E querida, a propósito