quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Sem Máscaras

Hoje não vou colocar nenhuma máscara. Não vou usar frases de efeito, nada que me deixe num estado de transe, num processo cego e vicioso que impeça que eu expresse o que realmente sinto. Estou cansado de marchar seguindo sempre as mesmas regras, o mesmo ritmo, a mesma direção. Ninguém sabe o que verdadeiramente sinto. Amorteço o monstro que há dentro de mim, colocando-o numa espécie de camisa de força, torço para que isso possa segura-lo. Isso que é tão necessário para que eu consiga viver, para que eu seja aceito como uma pessoa normal por todas as pessoas que estão ao meu redor. Sigo numa melancolia “estabilizada”, uma tristeza controlada que aprendi a esconder. Do que seria de mim, se não fosse assim? A vida segue, as contas chegam, as exigências, as cobranças, tudo se acumula embaixo da porta. Sem ganhos, sem trocas, vou administrando as perdas. Tenho comprimidos coloridos, dos mais diversos formatos e tamanhos que engulo a cada dia torcendo para que eles nunca acabem. Sou escravo da minha doença, das minhas instabilidades, dos meus pensamentos intensos. Num palco cheio de incertezas tento desejar coisas simples. Um emprego, um pouco de independência, a chance de ser eu mesmo.  Nas crises me distancio de todos, espero pela melhora aguardando sozinho. As mulheres que conquistei foram breves momentos de ternura no meio do turbilhão. Não passo mais de três meses com alguém, mais do que isso é impossível. Amo e odeio com a mesma intensidade. Destruo sonhos, transformo desejos em arrependimento, saudades em raiva ou ressentimento. Tantas promessas desperdiçadas. Olho para o teto, respiro fundo. Preciso terminar este texto de uma forma positiva, mas não consigo. Quero escrever que amanhã tudo será diferente, talvez no Natal, ou quem sabe no próximo ano, mas é mentira. Nada vai mudar, vou continuar marchando.



Perfeição
Legião Urbana


Vamos celebrar
A estupidez humana
A estupidez de todas as nações
O meu país e sua corja
De assassinos
Covardes, estupradores
E ladrões...
Vamos celebrar
A estupidez do povo
Nossa polícia e televisão
Vamos celebrar nosso governo
E nosso estado que não é nação...
Celebrar a juventude sem escolas
As crianças mortas
Celebrar nossa desunião...
Vamos celebrar Eros e Thanatos
Persephone e Hades
Vamos celebrar nossa tristeza
Vamos celebrar nossa vaidade...
Vamos comemorar como idiotas
A cada fevereiro e feriado
Todos os mortos nas estradas
Os mortos por falta
De hospitais...
Vamos celebrar nossa justiça
A ganância e a difamação
Vamos celebrar os preconceitos
O voto dos analfabetos
Comemorar a água podre
E todos os impostos
Queimadas, mentiras
E seqüestros...
Nosso castelo
De cartas marcadas
O trabalho escravo
Nosso pequeno universo
Toda a hipocrisia
E toda a afetação
Todo roubo e toda indiferença
Vamos celebrar epidemias
É a festa da torcida campeã...
Vamos celebrar a fome
Não ter a quem ouvir
Não se ter a quem amar
Vamos alimentar o que é maldade
Vamos machucar o coração...
Vamos celebrar nossa bandeira
Nosso passado
De absurdos gloriosos
Tudo que é gratuito e feio
Tudo o que é normal
Vamos cantar juntos
O hino nacional
A lágrima é verdadeira
Vamos celebrar nossa saudade
Comemorar a nossa solidão...
Vamos festejar a inveja
A intolerância
A incompreensão
Vamos festejar a violência
E esquecer a nossa gente
Que trabalhou honestamente
A vida inteira
E agora não tem mais
Direito a nada...
Vamos celebrar a aberração
De toda a nossa falta
De bom senso
Nosso descaso por educação
Vamos celebrar o horror
De tudo isto
Com festa, velório e caixão
Tá tudo morto e enterrado agora
Já que também podemos celebrar
A estupidez de quem cantou
Essa canção...
Venha!
Meu coração está com pressa
Quando a esperança está dispersa
Só a verdade me liberta
Chega de maldade e ilusão
Venha!
O amor tem sempre a porta aberta
E vem chegando a primavera
Nosso futuro recomeça
Venha!
Que o que vem é Perfeição!...