terça-feira, 31 de maio de 2011

Sobre novidades e esperanças

Muita coisa mudou desde o início deste ano. Ironicamente não posso reclamar de ter uma vida baseado em rotinas fixas e imutáveis, mas na verdade isto é o que eu mais desejava. Abrir minha agenda e ter a certeza que tudo está organizado. Compromissos, horários da minha escala de trabalho, pós-graduação, consultas, academia (que ainda não consegui voltar) e todas as idas e vindas necessárias. Ser surpreendido de uma hora outra com um compromisso inesperado realmente me afeta. Vou adiando idas ao médico, exames clínicos importantes, meus próprios cuidados para me ajustar aos acontecimentos. Minha medicação continua a mesma, embora eu não faça terapia desde novembro do ano passado. Encaro a crises de outras pessoas que chegam ao hospital como uma oportunidade de avaliar meu comportamento, minhas ações e o que eu sou. Por pior que o paciente esteja eu imagino se um dia eu também estarei ali. Sentado na frente de um sujeito analisando meus atos, meus delírios, minhas oscilações de humor, cada palavra do meu discurso e comportamento, com o poder de me enviar ou não para uma internação sem data precisa para acabar. Não sou médico, só faço parte da equipe, mas percebo a agonia de cada um quando recebe a noticia da necessidade de permanecer internado. As reações vão desde um simples questionamento com uma concordância inconformada, até as mais violentas, necessitando do apoio da equipe com medicamento contra agressividade e contenção mecânica. E você? Como se comportaria? 


Nesta semana após algumas distrações e falhas voltei a usar ritalina. Meu TDAH (transtorno de déficit de atenção e hiperatividade) gritou mais alto e recebi algumas recomendações do meu chefe. Ironicamente ele também sofre do mesmo problema, por isso a conversa seguiu num tom de aconselhamento. Mais um comprimido na caixa de medicamentos. Depois de alguns dias percebi melhoras. Não aconselho que ninguém vá atrás de um psiquiatra simplesmente por considerar o TDAH algo simples de ser diagnosticado. Passei por testes, entrevistas e relatos de evidências que necessitavam de alguma intervenção. Só estou aceitando algo que havia deixado de lado acreditando que medicação para bipolaridade seria suficiente. Já escrevi neste blog sobre as características deste transtorno e algumas das minhas "aventuras", que não deixam de ser engraçadas para quem não vive o problema.


Mais novidade???


Estou namorando. Que chovam pedras sobre mim, mas resolvi tentar mais uma vez. Tenho um belo histórico de fracassos afetivos com cicatrizes que vão até alma. O que pode acontecer? Mesmo minhas modalidades de relacionamento mais modernas envolviam riscos  tão grandes quanto estes que estou me submetendo. Se for assim, que seja por algo concreto e real. Com alguém que eu possa chamar de "namorada", que acorde comigo ao meu lado sem pressa de ir embora, ou com algum sentimento de culpa, receio ou medo. De acordo com Dr T, um renomado especialista em transtornos afetivos, posso estar 85% enganado sobre a probabilidade de tudo isso dar certo. Mas enquanto eu estiver vivo, acredito sinceramente que eu não esteja neste mundo apenas para viver numa montanha russa emocional. Dividido entre estados melancólicos, depressivos, eufóricos e abstratos. 


(...)As onze horas em ponto estava Simão encostado á porta do quintal, e a distância convencionada o arreeiro com o cavalo à rédea. A toada da música, que vinha das salas remotas, alvoroçava-o, porque a festa em casa de Tadeu de Albuquerque o surpreendera. No longo termo de três anos nunca ele ouvira música naquela casa. Se ele soubesse o dia natalício de Teresa, espantara-se menos da estranha alegria daquelas salas, sempre fechadas como em dias de mortório. Simão imaginou desvairadamente as quimeras que voejam, ora negras, ora translúcidas, em redor da fantasia apaixonada. Não há baliza racional para as belas, nem para as horrorosas ilusões, quando o amor as inventa. Simão Botelho, com o ouvido colado à fechadura, ouvia apenas o som das flautas, e as pancadas do coração sobressaltado(...)


Amor de Perdição - Camilo Castelo Branco