sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Comprimido para Dormir

SP 23:05 – Completo quatro noites de sono intercalado. São poucas horas de sono interrompidas por longos períodos de “meditação”. Não encontro algo que me faça relaxar, o calor gruda no meu corpo dolorido, os pensamentos pairam entre preocupações e pendências. Definitivamente não consigo ter uma noite de sono completa. Olho para o visor do relógio ansioso pela chegada da manhã. E mesmo que chegasse, o que eu faria? Provavelmente o que tenho feito durante toda a semana. Passaria o dia com uma sensação de ressaca, o corpo pesado, lutando para fazer todas as minhas tarefas. Na última noite resolvi tomar algo que me fizesse dormir. Recorri a caixa de medicamentos onde guardo alguns psicotrópicos que já fizeram parte de outros tratamentos, mas que perderam sua importância e foram substituídos com o passar do tempo. Retiro da caixa um comprimido grande e branco e coloco-o na garganta adentro. Deito cedo, são apenas 22 horas no relógio e espero para ver o que acontece. Tenho uma noite de sono pesada, algo que me arrebatou para um mundo profundo e cheio de sonhos. Mas não consigo acordar no horário que eu deveria. Perco a consulta com minha terapeuta por ter dormido até às 15 horas. Acordo com um gosto amargo na boca, cabeça pesada, e a sensação de estar de ressaca. Minha camiseta colada ao corpo toda transpirada. Lá fora um sol quente de verão. Meu “lado moral” começa a me condenar. Por ter ingerido um medicamento que não fazia mais parte do meu tratamento, por ter perdido uma consulta que julgava tão necessária, por piorar as coisas... O dia segue calmo. Sem trabalho, faculdade, ou algumas de minhas saídas para entregar currículo, acabo com à tarde sem ter feito nada de útil. Agradeço a Deus por estar sozinho em casa. Eu não gostaria de encarar alguém nas condições que fiquei. Tive uma noite de sono, finalmente consegui dormir. Mas joguei fora metade do dia, perdi uma consulta, dormi como se não precisasse estudar, como se já estivesse com a vida que sempre pedi a Deus. Corroa-me a crise de moralismo. Preciso voltar ao meu atual psiquiatra, talvez eu tenha que acrescentar mais um comprimido. Desta vez para conseguir dormir. Um que seja do tamanho da minha insônia, e não maior do que ela. Sei que não será a primeira vez que isso acontece, mas fico com a sensação de derrota. Comprimidos para dormir, comprimidos para não ficar depressivo, comprimidos para ficar estável, comprimidos para não ter a sensação de precisar de tantos comprimidos. Passam alguns anos e aí entram outros comprimidos..rs Para o coração, o colesterol, o diabete, etc, etc. Viva a vida! Tenho que faze-la valer a pena, do jeito que está, não dá.

Aprendemos a morrer quando o dormir é profundo
e não há sonhos lembrados.
Na insônia,
a vida resiste.
Valter da Rosa Borges