domingo, 1 de fevereiro de 2009

DIAS DE PAZ, DIAS DE LUTAS



Em breve acabará o meu contrato como voluntário do Instituto de Psiquiatria. Se tudo der certo, completarei os meus seis meses em breve. Dentro deste período, fiz tudo o que estava ao meu alcance para tentar permanecer como contratado, mas infelizmente as dificuldades impediram que os meus planos se concretizassem. Para cada três vagas abertas, ao menos duas estavam direcionados a pupilos de diretores, chefes, puxa sacos de influencia, ou até mesmo para aqueles que foram formados pela própria instituição. Não tenho talento para tornar-me puxa-saco. Isto vem de pai para filho. Trato a todos com o mesmo respeito, e em algumas vezes me identifico muito mais com aqueles que ocupam cargos mais humildes, pois são estes que estão em contato direto com o povão e que freqüentemente dão um “jeitinho” (o bom jeitinho) para que pacientes sofram menos nas filas de espera, ou consigam resolver os seus problemas da melhor maneira possível. Sim, atendemos ao SUS, a convênio, e particulares. Algumas vezes parece que o CAOS tenta se instalar. Pelo pouco tempo que permaneci, vi muitas coisas erradas serem feitas. Ações que são contrárias aos manuais éticos e organizacionais. Algumas em nome dos poderosos que dirigiam o sistema, e outras vezes para consertar erros que poderiam comprometer a chefia, ou a direção. Tudo o que aprendi foi na “raça”, e na “coragem”. Poucas pessoas chegaram perto de mim para oferecer algum treinamento. Por iniciativa própria eu comprei livros, pesquisei na biblioteca, anotava todas as patologias, fármacos, terminologias desconhecidas, e tudo o que poderia ser útil ou cobrado de mim. Fui atrás de informação sem contar com grandes ajudas. Perguntei sobre minhas dúvidas a médicos, que eu nem mesmo conhecia direito, a enfermeiros que permaneciam ao meu lado sem nunca abrir a boca para discutir sobre o caso de algum paciente. Nada veio até a mim. Algumas vezes fiz internações, fiquei responsável por pacientes contidos em leito e até mesmo tomei conta de enfermarias com pacientes agressivos na ausência do chefe. O QUE ACONTECERIA CASO... Algum paciente se machucasse?  Tentasse automutilação?  Ficasse psicótico? Até mesmo o protocolo do Conselho Regional de Enfermagem sobre a contenção física de pacientes eu tive que correr atrás. NINGUÉM DISSE O QUE PODERIA, OU NÃO SER FEITO... NÃO HOUVE TREINAMENTO EM PORRA NENHUMA. Pacientes suicidas, alguns com cicatrizes pelo corpo por automutilação. O manual do instituto eu praticamente “peguei emprestado”, sem autorização prévia para anotar o que eu considerava mais importante. Sou voluntário, não sou um contratado formal e remunerado. Nunca fomos convidados a participar de algum curso, ou palestra que realmente fosse útil para nós. Somos consideramos mão de obra com todas as responsabilidades vigentes. Mesmo assim, comida, condução, e qualquer outra despesa ficam por nossa conta. O tempo está acabando, começo a olhar para o mundo ao meu redor. Foi um grande sacrifício terminar a faculdade. Faltando três semestres, eu não agüentava mais minhas colegas de classe banalizando o papel do enfermeiro, criticando as ações que deveríamos tomar em nossos novos postos de trabalho, etc. Ao mesmo tempo, eu via uma classe cheia de pessoas fúteis que criticavam as aulas de psicologia, sociologia, antropologia ou qualquer coisa que fizesse com que nós desenvolvêssemos uma opinião própria sobre a sociedade, nós mesmos, e o mundo. Pessoas preocupadas com os próximos capítulos da novela das oito, o “Big Brother Brasil”, e coisas tão fúteis quantos estas. Meu professor de antropologia dizia de uma forma discreta que os alunos do curso de enfermagem só estavam preocupados em aprender a dar injeção na bunda de paciente. Chegou a lamentar-se quando encontrou uma aluna um pouco mais intelectualizada optando por este curso. Eu imaginava se o mesmo acontecia nas classes de jornalismo, direito, antropologia, etc. Como seriam as turmas, como seriam os perfis dos alunos que procuravam por estes tipos de curso. Mais esclarecidos? Mais politizados? Imaginei que dentro da faculdade eu encontraria pessoas menos alienadas, e um pouco mais conscientes com a sociedade. Engoli a seco tudo aquilo e segui em frente. Não havia grana para começar tudo de novo. Terminei a faculdade, fiz o trabalho de conclusão de curso carregando duas parasitas que não ajudaram em nada. Terminei finalmente o trabalho de conclusão de curso. A oportunidade de entrar num Instituto de Psiquiatria me deu novas esperanças. Psicologia, e enfermagem psiquiátrica sempre me chamaram muito a atenção durante a minha graduação. Além de todo autoconhecimento que isso permitiria. Ainda estou lutando. Há outros hospitais psiquiátricos e sinceramente é onde eu desejo estar. Estou procurando meu caminho. 

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